Paul Krugman

Prêmio Nobel de Economia, colunista do jornal The New York Times.

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Como os democratas podem lutar contra um Partido Republicano louco?

Eles podem prever a sabotagem e fazer os sabotadores pagarem um preço

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The New York Times

Normalmente, seria de esperar que um partido político que sofreu uma grave decepção eleitoral –ficando muito aquém dos ganhos típicos de meio de mandato, apesar da alta inflação e do descontentamento do consumidor– moderasse suas posições, buscasse um meio termo para atingir pelo menos alguns de seus objetivos políticos.

Mas o Partido Republicano moderno, caso você não tenha notado, não é um partido político normal. Ele mal tem objetivos políticos, fora um desejo quase automático de cortar impostos dos ricos e negar ajuda aos necessitados. Certamente não tem ideias políticas.

Os republicanos passaram grande parte da eleição falando sobre inflação. Mas em uma entrevista coletiva logo após garantir uma maioria estreita na Câmara líderes republicanos declararam que sua maior prioridade seria... investigar a família Biden.

O deputado Kevin McCarthy discursa a correligionários em eleição interna para a liderança republicana na Câmara - Alex Wong - 15.nov.2022/Getty Images via AFP

Então o Partido Republicano não ajudará a governar os Estados Unidos. Na verdade, quase certamente fará o possível para minar a governança. E os democratas, por sua vez, precisam fazer tudo o que puderem para impedir a sabotagem política e fazer que os pretensos sabotadores paguem um preço.

Antes de abordar as maneiras como os democratas podem fazer isso, vamos falar sobre duas razões pelas quais os republicanos provavelmente serão ainda mais destrutivos e irresponsáveis do que poderiam ter sido se a onda vermelha que eles esperavam confiantemente tivesse acontecido.

Primeiro, a estreiteza da maioria republicana na Câmara significa que o próximo presidente, provavelmente Kevin McCarthy, precisará do apoio de todos ou quase todos os membros de sua bancada (cinco disputas ainda não foram decididas) –o que significará fortalecer extremistas e negadores das eleições. Como disse um ex-congressista, McCarthy pode ter o título, mas Marjorie Taylor Greene poderá muito bem ser a presidente na prática.

Você pode objetar apontando que Nancy Pelosi teve apenas uma estreita maioria nos últimos dois anos, no entanto conseguiu unir moderados e progressistas em torno de sua agenda política. Mas McCarthy não é Pelosi –e os democratas progressistas são infinitamente mais sérios e interessados em fazer as coisas do que os republicanos do MAGA.

Em segundo lugar, o ambiente econômico, que foi um vento contrário para os democratas este ano, provavelmente (embora obviamente não com certeza) começará a parecer melhor em 2024, provocando esforços frenéticos dos republicanos para piorar as coisas.

Especificamente, a inflação parece cair de forma substancial, especialmente porque um nivelamento drástico das taxas de locação no mercado ainda não foi filtrado pelas medidas oficiais de preços. E, embora haja a possibilidade de uma recessão no próximo ano, provavelmente será branda, se acontecer, e terminará bem antes das próximas eleições.

Portanto, nos próximos dois anos podemos esperar que os líderes republicanos, sendo como são, causem o máximo de estragos que puderem, tanto para apaziguar os elementos mais extremistas de seu partido quanto para minar o que de outra forma poderia parecer uma governança bem-sucedida de Biden.

Infelizmente, os republicanos terão de fato grandes oportunidades de causar estragos, a menos que os democratas usem as próximas semanas, durante as quais manterão o controle do Congresso, para evitá-los. Duas questões em particular se destacam: o limite da dívida e a ajuda à Ucrânia.

Por razões históricas, a lei vigente nos Estados Unidos exige que o Congresso vote o orçamento duas vezes. Primeiro, autoriza gastos e estabelece alíquotas de impostos; então, se essa legislação levar a déficits orçamentários, ele deve votar separadamente para autorizar empréstimos para cobrir esses déficits.

Não está claro por que isso um dia fez sentido. No ambiente atual, permite que os políticos que não têm votos para mudar a política pelos procedimentos normais façam a economia de refém, como fizeram os republicanos durante os anos de Obama, ou simplesmente a explodam por puro despeito –porque não conseguir aumentar o limite da dívida provavelmente causaria uma crise financeira global. Alguém espera que a próxima Câmara republicana se comporte com responsabilidade?

Quanto à Ucrânia, embora os ucranianos tenham sido incrivelmente corajosos e notavelmente bem-sucedidos em impedir a invasão russa, eles precisam de um influxo contínuo de ajuda ocidental, tanto militar quanto econômica, para continuar a luta contra seu vizinho muito maior. Mas é muito provável que um Partido Republicano que segue muitas das sugestões de Tucker Carlson tente bloquear essa ajuda.

A boa notícia é que os democratas podem, como diz Greg Sargent, do The Washington Post, "enlouquecer" as políticas durante a sessão do "pato manco", elevando o limite da dívida o bastante para que não seja um problema e garantindo ajuda suficiente para a Ucrânia passar os muitos meses de guerra que certamente virão. E os democratas seriam... bem, loucos se não fizessem essas coisas o mais rápido possível.

Além disso, os democratas podem e devem atacar os republicanos por seu extremismo, por se concentrarem em perturbações e escândalos falsos, em vez de tentar melhorar a vida dos americanos.

Analistas políticos experientes sem dúvida zombarão de tais esforços. Mas esses serão os mesmos que insistiram que a inflação dominaria as eleições intermediárias e zombaram do presidente Biden por falar sobre a ameaça que os extremistas republicanos representavam para a democracia –o que acabou sendo um importante tema da eleição, afinal.

Certamente os republicanos se comportarão mal nos próximos dois anos. Mas os democratas podem limitar os danos e tentar fazer que os maus atores paguem um preço político.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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