Pedro Hallal

É epidemiologista, professor da Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas e coordenador do Epicovid-19, o maior estudo epidemiológico sobre coronavírus no Brasil.

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Pedro Hallal
Descrição de chapéu Coronavírus

Nosso mundo em dados

Desde o começo da pandemia, site da Universidade de Oxford é uma das melhores fontes para monitorar a situação da Covid-19

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Numa época em que lunáticos questionam até o formato da Terra, a busca por informações de fontes confiáveis é essencial. Nesse sentido, vale ressaltar o trabalho do site “Nosso Mundo em Dados” (“Our World in Data”, no original), vinculado à Universidade de Oxford na Inglaterra, que, desde o princípio da pandemia, vem se mostrando como uma das melhores fontes para se monitorar a evolução do coronavírus no mundo.

Navegando no site, por exemplo, é possível comparar a mortalidade por Covid-19 entre os países do mundo. E as notícias não são nada animadoras para o Brasil. Em números absolutos, o país é o segundo do mundo com mais mortes, atrás apenas dos Estados Unidos. Apesar desse resultado ser dramático, ele não é o melhor para comparações internacionais, visto que os países possuem tamanhos muito diferentes.

​A melhor comparação é aquela que usa números relativos. No “Nosso Mundo em Dados”, a mortalidade é apresentada para cada 1 milhão de habitantes. A média mundial é de 557 mortes por 1 milhão de pessoas. Isso não se refere aos doentes, mas sim à população total. A interpretação é que, de cada 1 milhão de pessoas que habitam o planeta Terra (que não é plano), em média, 557 morreram de Covid-19.

Nos primeiros meses da pandemia, o Brasil estacionou entre a posição 20 e 30 nesse indicador. Ou seja, dos cerca de 200 países do mundo, a mortalidade brasileira por Covid-19 era maior do que a observada em aproximadamente 170-180 países, mas menor do que a observada em outros 20-30 países.

Com o avanço da pandemia e a adoção de políticas equivocadas, o Brasil migrou para o grupo dos 20 piores e, a partir da disparada ocasionada pela variante gama nos primeiros meses de 2021, ingressou no vexatório grupo dos 10 países com maior mortalidade por Covid-19 no planeta.

Agora o Brasil parece estar novamente mudando de patamar, e novamente para pior. Recentemente, assumiu o quinto lugar entre os países com maior mortalidade por Covid-19, com 2.675 mortes para cada 1 milhão de brasileiros. Dividindo-se a média brasileira pela média mundial, nossa mortalidade é 4,8 vezes maior do que a observada no resto do mundo.

Mas qual a razão desse desempenho vergonhoso?

Alguns lunáticos diriam que o culpado é o Supremo Tribunal Federal. Alguns negacionistas diriam que a culpa é do comportamento dos brasileiros. Alguns desavisados acreditam que era inevitável, e o único culpado é o vírus. Alguns cientistas de WhatsApp acreditam que o problema é a falta de uso de cloroquina, ivermectina, ou talvez até falta de suco de beterraba.

Infelizmente a realidade é outra.

O desempenho vexatório é explicado por fatores muito mais simples.

O presidente deu o recado de que era só uma gripezinha, estimulando a população a desafiar o vírus. O presidente acreditou no político que disse que não duraria mais do que “algumas semanas” e que morreriam “umas 800 pessoas”. O governo estimulou o uso de remédios que não funcionavam. O presidente desestimulou a população a usar máscaras, aparecendo diariamente sem máscara na mídia.O governo mentiu que não poderia proteger a saúde e a economia ao mesmo tempo, e causou centenas de milhares de mortes e desemprego recorde. O governo demorou para comprar vacinas.

Se tem uma coisa que o site “Nosso Mundo em Dados” nos ensina é que mortes não acontecem por acaso. É muito fácil identificar os culpados. Basta agora aplicar as punições previstas em lei.

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