Se você só quer saber a resposta curta: sim, caso você tenha dinheiro disponível, é melhor pagar o IPVA com desconto do que parcelar. O resto do texto explica por quê.
Para entender a resposta, precisamos comparar dois fluxos de pagamento no tempo. E aí aparece uma variável importante —a taxa de juros. Mesmo que você não esteja pegando dinheiro emprestado ou investindo, ela é crucial para essas comparações.
Vejamos com um exemplo hipotético, tomando como referência os termos do IPVA do estado de São Paulo: pagar em uma parcela única em janeiro com 3% de desconto ou em cinco parcelas iguais sem desconto, de janeiro a maio.
Suponha que o IPVA do seu carro seja de R$ 3.000,00 —o valor exato não importa para a comparação. Na opção pela parcela única, você paga esse valor com 3% de desconto em janeiro, ou seja, R$ 2.910,00. Na alternativa do parcelamento, você deverá desembolsar R$ 600,00 por mês, entre janeiro e maio.
Para comparar os dois fluxos, pense que você utilize os mesmos R$ 2.910 da primeira opção, mas para ir pagando as cinco parcelas da segunda opção aos poucos. O dinheiro que sobra depois de cada mês você investe.
Vamos ainda imaginar que a taxa de juros é 12,15% ao ano —ou 0,96% ao mês—, a qual corresponde à taxa do DI do início de dezembro de 2023 (quando este texto foi escrito).
Nesse exercício, você paga a primeira parcela em janeiro, sobrando R$ 2.910,00 – R$ 600,00 = R$ 2.310,00. Em fevereiro, esse valor acrescido de juros é R$ 2.310 × (1 + 0,96%) = 2.332,18.
Depois de pagar a parcela de R$ 600,00 do mês, sobram R$ 1.732,18, os quais você investe novamente. Podemos seguir nesse arranjo até chegarmos a maio, quando vence a última parcela, e perguntar quando dinheiro sobrou. A tabela abaixo mostra o montante remanescente ao final de cada mês.
Mês | Valor que resta para pagar |
Janeiro | R$ 2.310,00 |
Fevereiro | R$ 1.732,18 |
Março | R$ 1.148,81 |
Abril | R$ 559,84 |
Maio | -R$ 34,78 |
No início de maio, você tem R$ 565,22, o que não dá para pagar a última parcela! Daí o valor negativo para este mês na tabela. Ou seja, a conta é deficitária, de modo que não compensa fazer esse arranjo de guardar o dinheiro e ir pagando as parcelas aos poucos. O melhor é aproveitar o desconto de 3% e pagar tudo de uma vez.
Isso ocorre porque, apesar das taxas de juros altas no Brasil, o desconto é também substancial e acaba compensando. E essas taxas estão em trajetória de queda, o que tende a favorecer ainda mais a opção da parcela única.
Para que valha a pena parcelar, a taxa de juros teria de ser bem maior —acima dos 20% ao ano. Convenhamos, é difícil encontrar investimentos por aí que pagam essa taxa sem que você corra grandes riscos.
E se você não tiver o dinheiro hoje para exercer a opção de parcela única: será que vale a pena tomar um empréstimo para aproveitar o desconto? A conta é muito parecida, e mais uma vez depende da taxa de juros associada a esse financiamento. Só que a taxa de juros para quem toma emprestado tende a ser maior do que o juro pago a quem empresta o dinheiro. É o tal do spread bancário, que no Brasil é bastante elevado na comparação internacional.
Aqui, para valer a pena, os juros teriam de ser mais baixos do que aquela referência de 20%. E, devido ao spread bancário, taxas de juros em empréstimos tendem a ser mais altas do que esse valor. Assim, se você não tiver dinheiro disponível no começo do ano, a melhor opção é parcelar mesmo.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.