Quem tem filhos busca, em geral, oferecer as melhores oportunidades para eles. Babás, creche, leituras, plano de saúde, exposição à cultura e diversidade, melhores escolas. Os pais que podem pagar e têm acesso a informação sobre o retorno que diferentes recursos trarão no futuro para seus filhos não poupam esforços na criação dos rebentos.
Esses investimentos das famílias fazem sentido. Os retornos individuais à educação são altos. Quanto mais anos de estudo uma pessoa tiver, maiores serão suas chances de empregabilidade, melhores serão seus empregos e maiores seus salários. Além da quantidade, a qualidade da educação também faz diferença no desempenho profissional das pessoas.
Entretanto, quando seus filhos estão matriculados em escolas privadas, com acesso a todos os recursos possíveis, talvez os pais não enxerguem o que suas famílias podem ganhar com a valorização da educação pública. Por que gastar tempo e energia para lutar por uma educação pública de qualidade para todos se posso só investir individualmente no melhor para mim?
A miopia está em ignorar os retornos coletivos advindos de uma população em que todos têm acesso a boas oportunidades educacionais. Recente levantamento de literatura realizado pela Fundação Getulio Vargas aponta que o aumento da qualidade da educação básica pode elevar o crescimento anual do PIB per capita em até 2 pontos percentuais. Também há evidências recentes de que a melhora da educação está associada a um aumento na geração de empregos entre jovens e a uma redução nos índices de homicídios.
Para alcançar esses resultados de maior crescimento econômico, mais empregos e menos violência não há subterfúgios além de investir em educação pública de qualidade.
A rede pública de ensino básico no Brasil comporta 137 mil escolas, atendendo 38 milhões de crianças e jovens, 81% do total de estudantes matriculados no país. Por isso, oferecer educação pública de qualidade significa melhorar a educação do país como um todo e, consequentemente, trazer resultados positivos coletivos. Ou seja, mesmo que uma família não seja diretamente beneficiada pela escola pública, será afetada positivamente por uma educação de qualidade para todos.
Na compreensível e incessante busca para garantir as melhores oportunidades e condições para que seus filhos tenham sucesso na vida, aos pais pode ser fácil ignorar o cenário macro de desigualdade educacional. Mas, se não houver um esforço conjunto para garantir acesso à educação de qualidade para todos e todas, independentemente das condições socioeconômicas das famílias, toda a sociedade vai continuar sofrendo as consequências.
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