O debate sobre o novo ensino médio vem se intensificando nas últimas semanas. Especialistas e educadores se dividem sobre qual caminho tomar. Alguns defendem a manutenção e aperfeiçoamento da reforma, outros clamam por sua revogação, apoiados por estudantes que foram às ruas protestar.
A atual reforma do ensino médio teve início com uma medida provisória do governo Temer. A partir daí, as redes deveriam começar um período de adaptação para o aumento gradual da carga horária e reestruturação curricular.
Antes, o currículo contava apenas com disciplinas obrigatórias, sem flexibilidade de escolha para os alunos. A reforma traz uma mudança nessa estrutura, dividindo o currículo em duas partes: a formação geral básica, obrigatória para todos, e os itinerários formativos, trilhas que os alunos vão escolher de acordo com seus interesses de especialização ou formação técnica.
Na teoria, faz sentido. Quem já passou por uma sala de aula da etapa deve ter ouvido ou dito: "Para que estamos estudando isso?". E o professor precisa ser criativo para convencê-los a estudar tópicos que, talvez, nunca precisem utilizar. Com os itinerários, a escola teria o potencial de ser mais atrativa e mais relacionada ao mundo do trabalho, de forma a combater o abandono escolar e melhorar a aprendizagem.
Contudo, tendo iniciado a implementação do novo modelo no ano passado, as redes educacionais enfrentam barreiras para levar as benesses da flexibilidade curricular aos estudantes. Os problemas são de natureza de desenho e de implementação da política.
Em termos de desenho, há espaço para aumentar a carga horária da parte obrigatória nas escolas de tempo integral e faltam orientações sobre os itinerários formativos. Itinerários alinhados aos interesses dos alunos podem estar inacessíveis para boa parte dos jovens brasileiros.
As falhas também são evidentes na implementação da política.
Não houve diretrizes, investimentos contínuos e apoio para a formação de professores e gestores nos anos que antecederam o início da reforma. No período que deveria ter sido dedicado à preparação, houve pandemia e descaso do Ministério da Educação que levou a dois anos de escolas fechadas.
Apesar dos percalços, há evidências nacionais e internacionais de que os princípios da reforma são coerentes. Além disso, os problemas que a reforma buscava resolver ainda existem. Repensar desenho e implementação é esperado e necessário no ciclo de toda política pública, e escutar os atores envolvidos é imprescindível para avançar nesse processo.
Evoluir a política é possível, mas voltar ao modelo antigo não é uma solução viável.
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