Priscilla Bacalhau

Doutora em economia, consultora de impacto social e pesquisadora do FGV EESP CLEAR, que auxilia os governos do Brasil e da África lusófona na agenda de monitoramento e avaliação de políticas

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Descrição de chapéu Enem Fies

Quem quer ser professor?

Os que persistem na profissão apesar de todos os desincentivos enfrentam um achatamento da carreira

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A carreira docente na educação básica apresenta uma contradição intrigante. Não é difícil encontrar professoras que têm verdadeira paixão pela docência e uma resiliente dedicação às escolas e aos alunos. O magistério é visto como uma missão, que é seguida heroicamente. Ao mesmo tempo, diante das inúmeras dificuldades enfrentadas, demandas crescentes e baixa valorização, um sentimento de frustração com a profissão as acompanha.

Essa contradição é um reflexo da percepção geral sobre a profissão: por mais que haja motivação intrínseca, a profissão de professor não é atrativa. Diversas pesquisas mostram que menos de 5% dos jovens estudantes do ensino médio afirmam querer ser professor. Esses estudantes que demonstram interesse em ser professor não estão entre aqueles com melhor desempenho acadêmico. Para os demais, a baixa remuneração, pouca valorização social e planos de carreira desestruturados são fatores determinantes para essa falta de interesse na profissão.

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Estudantes acompanham aula em sala com carteiras vazias na escola Passo Seguro, na Mooca, zona leste da capital - Danilo Verpa/Folhapress

Os poucos que decidem seguir a carreira enfrentam dificuldades na formação. Há grande evasão, em especial na área de exatas, em que 70% dos alunos desistem do curso, segundo o Inep. A grande incidência de cursos a distância é outro desafio da formação inicial dos professores. Estes cursos, de forma geral, precisam ter seus mecanismos de garantia de qualidade da formação revistos, e os estudantes acabam concluindo a licenciatura sem uma formação sólida.

Os que persistem na profissão apesar de todos os desincentivos enfrentam um achatamento da carreira, ou seja, avançam muito pouco e muito lentamente. O piso salarial, que vem aumentando desde a criação da lei do piso nacional em 2008, não é suficiente para garantir uma valorização digna das demandas da profissão, nem condições mínimas de trabalho. Além disso, nem o crescente piso salarial pode ser considerado alto quando se compara com outros profissionais de ensino superior.

Professores são o principal fator dentro dos muros da escola que afetam o aprendizado dos alunos. Portanto, diante da baixa valorização docente, não surpreende que os alunos não estejam aprendendo o suficiente, como apontam todas as avaliações de alcance nacional.

Políticas de valorização e incentivo aos professores são urgentes para tornar a carreira atrativa. Investir no corpo docente já formado é imprescindível para atrair novos jovens, pois é vendo professores motivados e valorizados que novos jovens serão engajados em seguir a carreira de professor. A profissão docente não pode ser apenas para as heroínas que insistem em seguir sua missão mesmo frente a todas as adversidades.

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