Desde 1963, o Brasil celebra o Dia do Professor em 15 de outubro, um feriado escolar que presta homenagem aos educadores. A essência desse dia, conforme estabelecido por decreto presidencial, é a valorização do papel dos mestres na sociedade moderna, envolvendo alunos e suas famílias. Seis décadas depois, a discussão sobre o reconhecimento da profissão docente permanece atual e relevante.
Essa celebração teve início no estado de São Paulo alguns anos antes. A origem é atribuída ao educador paulista Salomão Becker (1922-2006). Uma de suas frases mais célebres, "professor é profissão; educador é missão", ainda ressoa profundamente entre os profissionais da educação. A missão inclui enfrentar o desprestígio da carreira, a falta de recursos, salários aquém do justo, extensas jornadas de trabalho, carência de um plano de carreira e o aumento da violência nas escolas.
Diante dos desafios no exercício da profissão docente, especialmente na escola pública, parece ser preciso mesmo muito amor à missão de educar para não desistir. Nossos professores ensinam por amor e, em muitos casos, por falta de alternativas no mercado de trabalho. Aqueles que veem o magistério como uma missão e persistem em sua vocação para educar, apesar das barreiras e baixos salários, têm o poder de impactar positivamente a vida de crianças e adolescentes.
Entretanto, a educação não pode depender apenas de vocação, pois os "professores por amor" não podem atender a todas as crianças. Se não houver um corpo de professores bem qualificado e com condições de trabalho adequadas, a desigualdade de acesso à educação de qualidade irá continuar crescendo. Somente por meio da devida profissionalização da carreira docente, mais profissionais bem preparados serão atraídos para o magistério.
Infelizmente, a formação de professores vem enfrentando desafios crescentes nos últimos anos. Os dados do Censo do Ensino Superior de 2022, divulgados essa semana, mostram um cenário de expansão de cursos à distância, em especial após a pandemia. Nos cursos de licenciatura de instituições privadas, 94% dos novos alunos, futuros professores, matricularam-se em cursos à distância. O crescimento desenfreado da modalidade, não acompanhado de supervisão rigorosa por parte dos entes responsáveis, coloca em risco a qualidade da formação inicial, um pilar essencial da profissionalização da carreira docente.
Enquanto o ensino não for valorizado plenamente como uma profissão, continuaremos a depender de heroicos professores, não necessariamente bem formados, para educar os poucos que eles conseguem alcançar. E a valorização precisa ir muito além de desejar feliz dia dos professores.
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