Priscilla Bacalhau

Doutora em economia, consultora de impacto social e pesquisadora do FGV EESP CLEAR, que auxilia os governos do Brasil e da África lusófona na agenda de monitoramento e avaliação de políticas

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Priscilla Bacalhau
Descrição de chapéu Todas África

O legado de Jane Goodall

Há 80 anos ela decidiu o que faria da vida

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Jane era uma criança britânica de 10 anos de idade quando teve acesso a um livro do Tarzan. Ela, que já era apaixonada por animais, ficou encantada com a história. Talvez também conectada pela personagem homônima, a criança Jane decidiu que um dia iria à África para viver com os animais selvagens.


Essa decisão foi tomada há oito décadas. No último dia 3 de abril, a dra. Jane Goodall completou 90 anos de idade. Em suas entrevistas, Jane conta que quase todos riram da criança, que não era de família rica e tinha o desejo de viver na África. Quase todos menos sua mãe, que a apoiou a trabalhar duro e a seguir seus sonhos.

A mãe de Jane estava certa. Apesar de não ter tido formação universitária, Jane conseguiu aos 26 anos uma chance para trabalhar estudando chimpanzés no território que hoje corresponde à Tanzânia. O paleontologista que a contratou acreditava que a falta de treinamento acadêmico formal da jovem seria benéfica para a pesquisa sobre o comportamento dos chimpanzés, pois ela não carregava os vieses enraizados na comunidade científica.

De fato, ela não seguiu a cartilha preconizada pela ciência da época. Jane deu nomes aos animais que observava, em vez de números, como os cientistas diziam ser necessário. Era inaceitável criar uma conexão com eles ou sentir empatia para que fosse garantido um distanciamento do objeto de análise. Mas, para Jane, os animais não eram simples objetos.

Jane Goodall (esq.) posa ao lado de sua estátua em cera no Museu Grevin, em Paris - Miguel Medina/AFP

Uma de suas primeiras descobertas foi a de que os chimpanzés constroem ferramentas para conseguir alimentos, algo que se acreditava ser exclusivo dos humanos. Como disse o chefe de Jane, os cientistas precisariam aceitar que os chimpanzés são humanos, redefinir humanos ou redefinir ferramentas. Jane já estava revolucionando o que se sabia sobre animais, mas o clubismo e o machismo da comunidade científica fizeram com que demorasse muito tempo até que seus achados fossem validados.

Jane seguiu sua carreira de cientista, fez um doutorado e continuou estudando os primatas. Com o avanço dos estudos ao redor do mundo, Jane percebeu que a própria sobrevivência dos chimpanzés e de tantas outras espécies estava ameaçada pelo desmatamento. Nos últimos 30 anos, Jane virou uma forte ativista, defensora da vida silvestre e da conservação ambiental.

Ainda ativa e rodando o mundo em ações de conscientização sobre a emergência climática, Jane tem como compromisso de vida incentivar jovens a agirem sobre os problemas ambientais e de suas comunidades. A agora nonagenária nos deixará um legado de ensinamento de que cada uma das nossas ações importa. E esse ensinamento deve começar desde cedo, com as crianças sonhadoras como Jane.

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