Cilinho costumava dizer que não era necessário aglomerar jogadores na grande área para cortar cruzamentos. “Tem uma bola só”, afirmava, para explicar a necessidade de se posicionar nos lugares onde ela poderia cair.
O primeiro gol do Mirassol contra o São Paulo foi fruto de uma falha. Havia dez tricolores aglomerados na área e ninguém no rebote. O truque é entender por que o erro aconteceu.
O técnico do Mirassol, Ricardo Catalá, estudou o posicionamento do adversário. “Observamos que eles marcam por zona com bloqueio, e o bloqueador deles, Igor Gomes, tem o vício de seguir o homem que corre para a pequena área”, disse Catalá. “Então, induzimos o Igor a seguir o Reniê e colocamos o Zé Roberto por trás, para cabecear.”
O mérito do adversário não exclui o vexame. O São Paulo foi eliminado por um clube que perdeu 18 jogadores na paralisação, 8 deles titulares. O time de Fernando Diniz tem o melhor ataque do Paulista.
A eliminação não se concentra nas jogadas do Mirassol, nem na incompetência do São Paulo para vencer, depois de estar perdendo por 2 a 0, empatar em 2 a 2 e perder de 3 a 2. A crise são-paulina vem de muito mais longe e é impossível ter um diagnóstico a partir de uma única razão.
Não é pelos erros de Fernando Diniz, que existem. Não é só pelo presidente Leco, que tem culpa. Não é apenas porque Raí, Lugano e Alexandre Pássaro não conseguiram criar um ambiente vencedor no vestiário.
O clube contrata Daniel Alves e Pato e tem 50% do elenco vindo da base. Faz coisas certas que dão errado. O São Paulo se perdeu há uma década e não consegue se encontrar.
Sempre se vai dizer que a crise nasceu da soberba, quando o Tricolor se disse “Soberano”, após um título mundial seguido por três brasileiros. Quando Muricy caiu, em 2009, a acusação era de não conseguir ganhar a Libertadores, embora tivesse a supremacia do Brasil.
Dois anos depois, Muricy ganhou a Libertadores pelo Santos. O São Paulo espera até hoje.A fragmentação política é parte da decadência e sempre se apontará para a decisão de Juvenal Juvêncio de mudar o estatuto, para ter seu terceiro mandato, como a raiz da divisão.
O São Paulo sempre teve uma grande referência na política. O principal cardeal foi Laudo Natel, nos anos 1960, e houve um período de Manuel Raimundo Pais de Almeida e Henri Aidar, no início da década de 1970.
Essa referência foi Antônio Leme Nunes Galvão, depois de romper e afastar Juvenal Juvêncio da presidência em 1990. E passou a ser Juvenal após a morte de Galvão, em 2001.
Hoje, há 11 facções políticas. O São Paulo parece um condomínio, em que cada apartamento só quer saber da sua vaga na garagem. São 15 anos sem o título estadual e a Libertadores, 12 sem o Brasileiro, 8 sem troféu nenhum.
Antes, o São Paulo era colecionador de taças. Agora, enumera vexames: Penapolense, Defensa y Justicia, Colón, Bragantino, Juventude, Mirassol... Todo time na fila tem uma coleção assim. O Palmeiras do jejum também empilhava XV de Jaú, Inter de Limeira, Bragantino, Ferroviária...
Dizer que Fernando Diniz precisa pensar sobre sua carreira é óbvio. Ele pensa. Pode apostar que todo dia pondera o que faz certo ou errado. Telê Santana foi chamado de pé-frio até ser campeão mundial.
O São Paulo teve 19 técnicos em 12 anos. Nos anos 2000, foi campeão com Muricy, com Autuori, com Leão.
Na tragédia atual, até Muricy foi eliminado pela Penapolense. Uma pena para um clube que não queria menos do que o Brasileiro e hoje nem consegue o Estadual.
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