A decisão da diretoria do São Paulo é de não expor o provável novo treinador, Hernán Crespo. Sua estreia, se confirmada a contratação, só deverá acontecer depois do início do Campeonato Paulista. Mas uma derrota para o Grêmio pode precipitar o início. Depende do tamanho da tempestade.
Na improvável hipótese de Crespo estrear ainda neste Brasileiro, o São Paulo será o oitavo time com técnico estrangeiro no campeonato, depois de Atlético-MG, Palmeiras, Internacional, Coritiba, Botafogo, Vasco e Flamengo. Até o final o torneio, 8 dos 20 times podem ter treinadores internacionais, ou 40% dos participantes.
É mais do que na Itália (3) e Espanha (6) e igual à Alemanha (8). Nos clubes da Premier League, na Inglaterra, 50% chegaram de fora do Reino Unido.
Não é importante onde o técnico nasceu, mas qual sua competência e qual a capacidade de o clube lhe dar respaldo. Esse é o dado mais importante. Dos 7 clubes já dirigidos por estrangeiros neste Brasileiro, apenas 3 os mantêm no cargo e só um comandante internacional resistiu pelas 35 rodadas disputadas até agora: Jorge Sampaoli.
O Flamengo contratou e demitiu Domènec Torrent, o Vasco dispensou Sá Pinto depois de 15 jogos, o Botafogo desistiu de Ramón Díaz após três rodadas e Eduardo Coudet pediu demissão para trabalhar no Celta, da Espanha.
Nessas condições de trabalho, não faz diferença o técnico ser gaúcho, paulista, pernambucano, espanhol, argentino ou português.
Além dos contratados e dispensados na Série A, a lista dos nômades que acreditaram na loucura do futebol brasileiro inclui os portugueses Jesualdo Ferreira, sobrevivente por 15 jogos no Santos no Paulista, e Augusto Inácio, demitido depois de sete partidas do Avaí.
Os clubes brasileiros têm treinadores do exterior desde os anos 1910 e por todas as décadas, desde o inglês Harry Welfare e o uruguaio Ramón Platero, naqueles tempos das bolas marrons e de capotão.
Sempre ajuda e é justo pensar no desenvolvimento que Jorge Jesus, Abel Ferreira, Hernán Crespo e Jorge Sampaoli trazem. Mas a temporada 2020 indica que há um problema mais grave do que o anacronismo do treinador do Brasil. É o subdesenvolvimento do futebol brasileiro.
Isso inclui dirigentes, jornalistas e até torcedores.
Avalia-se o fracasso de Sá Pinto e Jesualdo Ferreira depois de 15 jogos, como se o fiasco fosse deles. Como se Guardiola fosse capaz de assumir o Vasco e dar jeito numa crise sem fundo do time de São Januário. Domènec Torrent é culpado de não ser igual a Jorge Jesus e criticado ao declarar não ter respaldo no Flamengo. Ficou 23 partidas.
Parte dos comentaristas julga absurdo Fernando Diniz não ter sido demitido depois de perder por 5 a 1 para o Internacional, resultado que transformou os gaúchos em líderes do campeonato. Seria correto, então, demitir Jurgen Klopp depois de cair por 4 a 1 para o Manchester City, líder da Premier League?
Chelsea e Real Madrid têm duas das maiores guilhotinas de técnicos da Europa. O Chelsea teve cinco treinadores desde 2015 e o Real Madrid seis, contabilizado o retorno de Zidane. O São Paulo está contratando seu 11º nesse período. O Botafogo teve cinco, só na temporada 2020.
São óbvias as diferenças entre Klopp e Diniz, entre elas ter conquistado Champions League e Premier League antes de cair de quatro para o City. Mas a principal distinção é a maneira como se lida com a derrota por aqui. Como Abel Ferreira disse desde sua chegada. “Sei que vamos ganhar e vamos perder.”
Deveria ser óbvio. Mas não sabemos.
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