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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Descrição de chapéu Mundial de Clubes 2020

Única arma do Palmeiras para tentar ser campeão do mundo é o realismo

Abel Ferreira terá de ser estrategista, e time precisa superar desgaste físico e emocional

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Marcos apareceu na zona de entrevistas cerca de 30 minutos após o final de Palmeiras 0 x 1 Manchester United, em 1999. Triste pela derrota e pela falha no gol de Roy Keane, que deu o Mundial aos ingleses, o goleiro desculpou-se dizendo que seu estudo indicava que os cruzamentos do Manchester iriam no primeiro pau.

Enganou-se.

Dez dias antes, em reportagem do diário LANCE!, Felipão assistiu ao meu lado a todos os gols das campanhas da tríplice coroa do Manchester United, vencedor do Campeonato Inglês, da Champions League e da Copa da Inglaterra da temporada 1998/99.

A conclusão do treinador era inversa à de Marcos: os cruzamentos viriam na segunda trave. Giggs ganhou de Júnior Baiano, chegou à linha de fundo e mirou Roy Keane, atrás do goleiro palmeirense. Marcos saltou para tentar interceptar na primeira trave e isso serviu para abafar a bola, fazê-la cair macia para a finalização de Keane.

O Palmeiras teve grande atuação, depois de perder o medo que predominou nos primeiros 20 minutos. Soltou-se e merecia o empate.

Quase 21 anos depois, o Mundial de Clubes é diferente. Não apenas por reunir clubes dos cinco continentes. Em 30 de novembro de 1999, o fim do limite de estrangeiros já permitia formar seleções nacionais nos times da Europa, mas o tempo acelerou o processo num nível assombroso.

Em 26 de dezembro daquele mesmo ano de 1999, o Chelsea venceu o Southampton com 11 estrangeiros. A primeira equipe da história sem nenhum nativo.

A lógica dos mundiais de clubes era de times sul-americanos atacando e apresentando ao mundo seus melhores talentos. Os europeus eram estrategistas. Tirando o Flamengo de 2019, que atacou o Liverpool, a maior parte das finais de Mundiais recentes mostra sul-americanos encolhidos na defesa em busca de um contra-ataque, contra europeus com seu jogo moderno, repleto de estrelas.

Os títulos de São Paulo, Internacional e Corinthians foram extremamente merecidos, mas Rogério Ceni foi o melhor em campo contra o Liverpool, o Colorado ganhou com contra-golpe e o Corinthians deu aula de estratégia, não de habilidade.

Já são quatro sul-americanos eliminados nas semifinais, razão de preocupação para o Palmeiras, que viveu uma maratona emocional, com 10 jogos em 31 dias, 4 deles com caráter eliminatório, além de três clássicos seguidos contra Grêmio, Corinthians e Flamengo.

Não é impossível o Palmeiras conquistar o título, mas é necessário pensar primeiro no Tigres, na semifinal. O técnico brasileiro, Tuca Ferreti, está no cargo há dez anos no México, mantém base com quatro titulares iguais desde 2015, ganhou quatro títulos mexicanos e um continental nesse período. Também tem cinco jogadores da última Copa do Mundo, além de Gignac, que atuou na África do Sul, em 2010.

Se vencer o Tigres, o Palmeiras pensará no Bayern, campeão da tríplice coroa exatamente como o Manchester United de 21 anos atrás. Os bávaros também têm o melhor jogador do planeta e tornaram-se o único campeão com vitórias em todas as partidas de uma campanha de Champions League.

O Palmeiras decidiu não levar o dossiê da Copa Rio, com o qual pediu a equiparação do torneio internacional de 1951 ao Mundial de Clubes. “São coisas diferentes. Estamos aqui concentrados em tentar ganhar este torneio”, diz o presidente Maurício Galiotte.

O Palmeiras tem o cansaço físico, o desgaste emocional, o acúmulo de jogos, a desigualdade Europa-América. Seu único trunfo para tentar ser campeão do mundo é o realismo. Abel Ferreira terá de ser estrategista.

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