Há uma guerra de narrativas entre o presidente afastado da CBF, Rogério Caboclo, e o ex-secretário-geral, Walter Feldman. Há duas semanas, nesta Folha, Feldman afirmou que o momento da ruptura definitiva com Caboclo se deu em Porto Alegre, antes de Brasil e Equador, pelas Eliminatórias.
Feldman conta que Caboclo pretendia entrar no vestiário minutos antes da partida e ouviu do então secretário que não poderia ingressar no espaço exclusivo dos atletas, antes do jogo. Informa também que Cafu estava presente e disse o mesmo ao presidente. Caboclo desmente que o capitão do penta tenha lhe dado esse conselho. Cafu responde: “Eu disse ao presidente que não entrasse no vestiário para falar sobre a organização da Copa América”.
O depoimento de Cafu é complementar ao de Feldman. Para a discussão sobre o afastamento do presidente da CBF, dá no mesmo. Para a seleção brasileira, não.
Aquela semana de tensão entre dirigentes e jogadores pode ter sido a fronteira entre uma equipe normal e um grupo absolutamente sólido em busca da conquista da Copa do Mundo.
Capitão na partida de Porto Alegre, contra o Equador, Casemiro saiu chocado de um dos encontros com Rogério Caboclo. Os jogadores pediram que a Copa América não acontecesse no Brasil. A comissão técnica se juntou ao pedido. Alguns jogadores que não tinham papel de liderança assumiram posição dentro do grupo.
Há dois casos surpreendentes: Danilo e Neymar.
O lateral direito da Juventus sempre pareceu tímido. Tomou partido.
O craque do time também se posicionou com o grupo de jogadores. A comissão técnica, idem.
Não se ganha uma Copa do Mundo por causa da unidade, mas pode ajudar. A seleção se apresentou no final de maio para as Eliminatórias e está reunida há quase 45 dias. O plano era dividir o grupo para a Copa América. Ficaram todos juntos para a tentativa de conquistar o título e os debates públicos com o presidente da CBF.
Foi tenso.
Neymar passou a dar entrevistas à beira do campo, depois das vitórias contra o Chile e o Peru. Não riu como uma hiena. Falou sobre os jogos, os méritos, os problemas, as dificuldades. Impossível dizer que se comporte como um líder. Comporta-se como parte do grupo.
É sempre possível discutir se a seleção do tetra começou a ganhar no episódio das mãos dadas, no Recife, se o tri veio do plano da preparação física na escola de educação física da Urca, se o penta teve auxílio da reunião em que Felipão definiu seus cinco capitães. Há sempre um certo romance sobre os motivos de grandes vitórias ou de derrotas retumbantes.
Mais arriscado é dizer que a unidade deste mês levará ao hexa. Há seleções mais fortes na Europa, e o Brasil não é mais um polo de conhecimento de futebol, como a Inglaterra ou a França.
Isso tudo à parte, é possível dar a informação: a seleção funciona como um time. Levando em conta a crise política no prédio da Barra da Tijuca, a seleção brasileira é o setor da CBF que funciona.
Também há quem diga que sempre foi assim com Tite. Antes, na segunda passagem de Dunga, os jogadores se incomodaram com regras e discutiram métodos. Com Tite, houve excelentes momentos nas Eliminatórias. Depois, discussões com a entrada de familiares de Neymar na concentração da Copa do Mundo.
Do ponto de vista técnico, a Argentina melhorou como equipe durante a Copa América, o Brasil oscilou dentro dos jogos e sofreu contra Colômbia, Chile e Peru.
Messi pode sair campeão do Maracanã.
Mesmo assim, o trabalho tem de ser protegido. O objetivo é a Copa do Mundo.
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