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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Ana Moser é tiro certo para o Ministério do Esporte

Futura ministra fundou e preside instituto que une educação e prática esportiva, motivo da existência da pasta

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Ana Moser é um tiro certo para o Ministério do Esporte e não é apenas por ser a primeira ex-atleta no cargo, desde Pelé. É porque fundou e preside um instituto chamado Esporte e Educação. Não existe outro motivo para a existência desta pasta a não ser levar a prática esportiva à escola, juntar o conhecimento do corpo ao da sala de aula.

Quem primeiro escancarou essa noção foi meu amigo, mestre e vizinho de página, Juca Kfouri. Foi ele o primeiro homem convidado a ser Ministro do Esporte, por Fernando Henrique Cardoso. Juca conta —e FHC escreveu— ter respondido negativamente ao convite sob o argumento de que só havia um homem a quem João Havelange respeitaria, não ultrapassaria seus limites e não iria diretamente ao Presidente da República: Pelé.

Ana Moser abraça Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em evento em setembro, em São Paulo
Ana Moser abraça Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em evento em setembro, em São Paulo - Carla Carniel - 27.set.22/Reuters

Lembro-me do desespero de Rita de Cássia Nevado, Ritinha, secretária do Juca na redação de Playboy, sem saber o que dizer aos repórteres, que perguntavam por que FHC estava na casa do diretor de Playboy e Placar, numa manhã da primavera de 1994. Rita desmentia todas as informações sobre a reunião, até Juca pedir que ela dissesse sempre a verdade.

Pelé virou ministro e produziu a lei que terminou com a escravidão do jogador de futebol, e a que, equivocadamente, atribuem a subserviência dos craques aos empresários. O jogador ganhou sua alforria. Pecado é o futebol não lhe ter ensinado o que fazer com sua liberdade, o que provocou a imediata troca de senhor. Saiu o clube, entrou o agente.

Mais uma razão para Ana Moser ser a ministra ideal. Ela junta esporte e educação.

Uma velha canção do Skank diz que, para abolir a escravidão do caboclo brasileiro, numa mão educação e na outra dinheiro. Para o craque do futebol, deram a segunda opção, apenas. Ao atleta olímpico, muitas vezes nem isso.

Pobre de você, se julgar que grana vale mais do que cultura.

Há razões para haver um ministério do Esporte, num país de 27 federações para cada modalidade. Caberá a Ana Moser determinar a política esportiva. Pode ajudar a desenvolver os atletas de alto rendimento, mas a prioridade é espalhar a prática pelo país. Não se faz um povo culto em esportes trazendo os maiores eventos, equívoco dos primeiros anos Lula.

O desenvolvimento vem do exercício diário. Se 207 milhões de habitantes tiverem o esporte em seu dia a dia, haverá milhares de campeões. Mais ainda, se não passarem fome.

Esta será a missão da pasta de Ana Moser.

O futebol também é modalidade olímpica.

Mas, neste caso, haverá um papel importante do presidente Lula.

Assim como Margareth Thatcher, primeira-ministra de direita no Reino Unido, foi convencida de que o futebol poderia gerar empregos, riqueza e impostos, e permitiu que se fizesse um esforço para terminar com a vergonha internacional dos hooligans e transformá-lo no orgulho britânico da Premier League, o Brasil precisa do mesmo movimento.

Neste caso, diferente do que Juca Kfouri disse a Fernando Henrique Cardoso, não é João Havelange quem precisa atropelar o ministro, para falar com o presidente. É o presidente quem precisa, junto com a ministra, dizer à CBF que não aceita mais o Brasil tão letárgico num assunto tão estratégico.

O esporte e a educação andarão juntos com Ana Moser.

O futebol, paixão do presidente, precisa acabar com a política e pode voltar a ser orgulho nacional.

O país do futebol deve renascer.

O fim do ano é sempre de esperança. Que seja a partir do Ministério de Ana Moser, do Esporte e Educação.

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