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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Descrição de chapéu Tóquio 2020

Brasil só terá acesso ao esporte se a política esportiva estiver ligada à educação

Dos países acima da delegação brasileira no quadro de medalhas, Cuba e Nova Zelândia chamam a atenção

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O Brasil tem chance de comemorar seu recorde de medalhas se alcançar 20, com oito de ouro. O quadro é apenas uma convenção, não oficial, que espelha quem tem maior ou menor desempenho olímpico.

Quem está acima no ranking dos medalhistas é quem tem mais ouro, mesmo que a soma de todas as medalhas seja menor. “Vai tentar mudar a cor”, diz Galvão Bueno quando há garantia de medalhas, como a do futebol, ou como foi a da pugilista Bia Ferreira ao garantir o bronze –e podia mudar para ouro.

No final da tarde de quarta (4), o Brasil estava em 16º lugar. Dos 15 países à frente, só dois têm mais habitantes: China e EUA. Normal estar atrás de Grã-Bretanha, Itália, França, Japão... Sempre foi assim. Dos 13 acima do Brasil, e com população menor, dois chamam a atenção: Cuba e Nova Zelândia.

Não vale nem falar dos cubanos, porque são mais olímpicos do que nós desde Tóquio-1964, e porque alguém tentará ideologizar. Cuba tem mais medalhas, entre outras razões, porque o regime fazia propaganda a partir do esporte. Há 11 milhões de cubanos e 210 milhões de brasileiros.

Deixa para lá. Ou alguém vai querer falar do capitão.

Melhor tratar de outro exemplo, também à nossa frente: Nova Zelândia. Está na Oceania, tem 4 milhões de habitantes e sempre ficou perto do Brasil no quadro de medalhas, à nossa frente em 2000, 2012 e 2020.

Quer dizer que, nos últimos tempos, eles parecem evoluir mais rapidamente do que nós. Nesta década, ficaram atrás só no Rio. Mas quando as medalhas deles são examinadas no microscópio, nada é muito diferente, exceto a população: 4 milhões de neozelandeses x 210 milhões de brasileiros. A Nova Zelândia é o país da canoagem, e o Brasil, o país do futebol. Também do vôlei.

Todo mundo tem uma embarcação na Nova Zelândia, assim como, aqui, todo passeio na praia encontra uma pelada de futebol ou uma rede de vôlei. Muitas vezes, de futevôlei. É quase instinto. Um caiaque para os neozelandeses, uma bola na praia para os brasileiros.

Na história olímpica, com o perdão da não atualização da madrugada, a Nova Zelândia tem 133 medalhas, e o Brasil, 144. Eles, em 15 esportes, nós em 18. Comparado com as 1.046 medalhas dos americanos, em 36 modalidades diferentes, Brasil x Nova Zelândia registram um zero a zero retumbante.

Mas vencemos Portugal de longe. Nossos patrícios ganharam 65 medalhas em 125 anos de Olimpíadas, em apenas oito modalidades. Dom Pedro 1º proclamou a independência a cavalo e dois anos depois viajou para ser o rei de Portugal. Quase um símbolo os portugueses terem o triplo de nossas medalhas no hipismo: 3 x 1. Outro zero a zero tenebroso!

Voltamos ao DNA do Brasil e da Nova Zelândia. Eles ganham medalhas no que gostam de fazer, e nós, idem. Mas o exemplo de haver 13 países à nossa frente em medalhas e atrás em população dá a noção de que temos muito menos acesso ao esporte. O que, em tese, representa menos acesso à escola.

Num país como o Brasil, só haverá acesso ao esporte se a política esportiva estiver ligada à educação.

Adhemar Ferreira da Silva, bicampeão olímpico no atletismo, foi demitido pelo prefeito Jânio Quadros, na década de 1950, sob o pretexto de a prefeitura não poder admitir “vagabundos”. Trinta anos mais tarde, Jânio proibiu o skate na cidade, porque era coisa de maconheiro.

Há décadas sabemos que os medalhistas brasileiros são heróis. Exceto os que jogam futebol ou vôlei, que fazem parte do nosso DNA. Como a canoagem faz para os 4 milhões de neozelandeses.

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