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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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O escândalo dos preços das finais da Copa do Brasil

Prioridade precisa ser para quem vai sempre ao estádio, não para quem paga mais

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O escândalo do aumento nos preços dos ingressos para as finais da Copa do Brasil levou o Procon a procurar o Flamengo. E fez o presidente do São Paulo tentar responder, em vão, por que julga que dirige o clube mais popular do país, já que o valor de face do ingresso mais barato para os jogos é de R$ 200.

Mas esse valor de face não é uma verdade absoluta, e sócios são-paulinos poderão entrar no estádio por R$ 50,30.

É sempre importante dar a informação completa.

A decisão São Paulo x Flamengo indica que há ajustes importantes a fazer para que o Brasil continue aumentando o número de torcedores nas arquibancadas e permita o acesso de todas as camadas sociais.

Os programas de sócios-torcedores representam o fator mais determinante para o crescimento de público nos estádios. Com 26 mil pagantes por jogo, a Série A deste ano supera em 17% o recorde da história do país, registrado 40 anos atrás. Mesmo assim é necessário melhorar.

Torcida do Botafogo no jogo contra o Bahia, no estádio Nilton Santos - Ricardo Moraes - 27.ago.23/Reuters

Na semifinal, contra o Corinthians, o São Paulo cobrou R$ 75 pelo bilhete mais barato, R$ 35 para quem tem direito à meia entrada. Na finalíssima, contra o Flamengo, o valor cheio subiu para R$ 200. O aumento é de 185%! Abusivo.

É possível efetuar outra conta. O sócio tricolor que paga R$ 199,99 por mês tem prioridade e precisará acrescentar R$ 0,30. Dividindo esses R$ 199,99 pelos quatro jogos que, em média, a equipe faz por mês em seu estádio, são R$ 50,30 para acessar o Morumbi. É o menor valor a ser gasto pelos são-paulinos.

O pecado mortal é São Paulo e Flamengo oferecerem a preferência a quem paga mais, não a quem tem mais assiduidade. Uma comparação. O palmeirense do plano ouro paga R$ 144 por mês e tem 100% de desconto em todas as partidas. Será prioritário para comprar um ingresso se esteve presente em 80% delas.

Diferentemente dos finalistas da Copa do Brasil, a primazia em Palmeiras e Corinthians é de quem passa pela catraca sempre, não de quem paga mais.

Para um palmeirense desse plano, o bilhete acabará custando R$ 36 (R$ 144 divido por 4) contra o Cuiabá —na estreia da Série A—, contra o Boca Juniors —na semifinal da Libertadores— ou na final da Copa do Brasil.

A prioridade precisa ser para quem vai sempre, não para quem paga mais. A conta rubro-negra é mais cruel do que a são-paulina. O menor valor será R$ 125. A conta inclui pagar um quarto de um plano de sócio com amigos, ir a todos os quatro jogos do mês e aplicar o desconto de 50%. Mesmo assim, R$ 125 para entrar.

É muito caro!

Não é justo dizer que o futebol está mais elitizado do que no passado, mas o Flamengo está. Há 40 anos, quando o bilhete da geral custava baratinho, os preços nas finais subiam em média 60%. Na primeira rodada de 1983, custou, em média, Cr$ 53 (cruzeiros). Na final, Santos x Flamengo, pagava-se Cr$ 1.084. Mesmo considerando haver inflação mensal naquele período, era um abuso.

E as arquibancadas estavam vazias. O Flamengo recebeu 155 mil torcedores para a finalíssima contra o Santos e apenas 6.000 contra o Americano, num estádio com 200 mil lugares.

Lance de Flamengo 3 X 0 Santos, final do Brasileiro de 1983, no Maracanã - Reprodução

Foi o campeonato do recorde de espectadores: 22.983 mil por jogo. Hoje, a média é 17% maior: 26.857.

Tem algo funcionando bem para ter mais gente nos estádios.

Por outro lado, algo não funciona. Os planos de Flamengo e São Paulo —o clube mais popular do Brasil, o rubro-negro, e o que se propõe a ser— não deveriam priorizar quem paga o maior valor.

O torcedor que vai de três a quatro vezes por mês deveria ter chance de comprar seu ingresso por um preço justo. Não há justiça, no Brasil, em cobrar R$ 100 por um espetáculo de futebol.

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