Ranier Bragon

Repórter especial em Brasília, está na Folha desde 1998. Foi correspondente em Belo Horizonte e São Luís e editor-adjunto de Poder.

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Ranier Bragon

Cordão dos chapas-brancas cobra autocrítica da imprensa sobre Bolsonaro

Adesistas repetem o PT e chamam de engajada a cobertura que lhes desagrada

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, durante conversa com jornalistas em Brasília, no início deste mês
O presidente eleito, Jair Bolsonaro, durante conversa com jornalistas em Brasília, no início deste mês - Adriano Machado/Reuters

Ele tomará posse daqui a 14 dias e é tamanho o furor das moscas ao redor da lâmpada bolsonarista que chegam a ser compreensíveis as escaramuças do filho zero-dois, Carlos, com os áulicos que parecem sair até de dentro dos bueiros.

No meio dessa turma ferve um clamor pela autocrítica da mídia diante da vitória do capitão. Em um ajuntamento de falsas premissas e ideias tortas, parte defeituosamente macaqueada do fenômeno Trump, produz-se uma gosma analítica de conclusões variadas: o jornalismo caquético não entendeu as ruas, as redes, explorou escândalos que não comoveram a maioria da população, em suma, pôs-se em campanha contra Bolsonaro dando ao final com os burros n’água, como bem sabemos.

A imprensa é certamente falha, incluindo esta coluna. Mas há um detalhe basilar que parece não ser enxergado por essa doce gente, que frequentou a mesma escola petista que nos anos Lula e Dilma cultivava igual conceito da imprensa, todos forjados nas melhores faculdades de engenharia de obra pronta.

Esse cordão dos chapas-brancas —a imprensa governista— não consegue enxergar que para o jornalismo profissional que se propõe sério, crítico e independente não pode existir a possibilidade de estar “contra” ou a “favor” de Bolsonaro, “contra” ou a “favor” do clamor das ruas. 

Deve existir a busca competente e obstinada daquilo que mais se aproxime da verdade. Como prega a frase-síntese do clássico “Os Elementos do Jornalismo”, de Bill Kovach e Tom Rosenstiel: “A primeira obrigação do jornalismo é com a verdade”.

Deveria-se minimizar ou deixar pra lá, por exemplo, as incontáveis declarações e posições homofóbicas e pró-ditadura de Bolsonaro porque parcela da sociedade concorda com elas? Ou fechar os olhos para a fantasmagoria dos gabinetes da família porque, para esses analistas, isso é “fazer campanha contra”?

Que a imprensa faça autocríticas diárias e severas. Mas não sob a ótica daqueles que querem, na verdade, um grande e dócil diário oficial.

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