Às 21h55 da quarta-feira (30), o presidente Jair Bolsonaro “gritava” no Twitter em letras maiúsculas - “GRANDE DIA!”, seguido de um sinal de “joinha” e uma bandeira do Brasil.
Era uma comemoração pela decisão do Banco Central de reduzir a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 0,5 ponto porcentual, para 6% —a mais baixa da história e o primeiro corte do atual governo.
Mas não houve muito tempo para celebrar. Às 9 horas da quinta-feira (1), o IBGE nos jogava de volta à realidade. A produção industrial caiu 5,9% em junho em relação ao mesmo mês do ano passado.
Depois de registrar um desempenho positivo importante em maio, com alta de 7,4%, o desempenho da indústria voltou a decepcionar. No acumulado do ano, a queda é de 1,6% e vale ressaltar que a base de comparação é baixíssima.
Os resultados da indústria interromperam uma série de indicadores positivos que vinham desde a votação da reforma da Previdência na Câmara: melhora da confiança, aumento de postos de trabalho, retomada do crédito, corte da taxa básica de juros.
Também serviram para nos lembrar que os índices são muito voláteis em economias estagnadas como a brasileira. Quando se caminha perto do zero, variações para cima ou para baixo são perfeitamente naturais e não indicam tendência.
Dito isso, é evidente que a aprovação da reforma da Previdência em primeiro turno na Câmara por uma ampla margem de apoio trouxe alento. Mais do que isso: transformou o Congresso no fiador da economia.
No início do ano, as confusões provocadas pelas polêmicas de Bolsonaro —que chegou a compartilhou nas redes sociais o agora famoso vídeo da “golden shower”— fizeram desabar a confiança dos investidores.
Agora o efeito tem sido menor, apesar do “esforço” do presidente, que ligou a metralhadora de declarações racistas, mentirosas e desumanas, que nos fazem ter vergonha do mandatário do país. Só que, paradoxalmente, ainda temos a sensação de ter um adulto na sala –não Bolsonaro, claro, mas o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
Todavia, a questão central é que apenas a mudança de expectativas não vai bastar. Depois de anos de políticas econômicas equivocadas, o parque industrial brasileiro está obsoleto, a infraestrutura em frangalhos e a mão de obra pouco qualificada. Tudo isso reduz significativamente a capacidade de crescimento estimada em míseros 1%.
“Não vai ser o corte da Selic que resolverá o problema, só mesmo respostas estruturais vão tirar o Brasil da estagnação”, disse à coluna Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos. O Congresso já começou a trabalhar na reforma tributária, medida essencial desse processo. Oxalá tenha sucesso, se, evidentemente, Bolsonaro não atrapalhar demais.
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