Depois de semanas longe de casa, tudo o que eu queria era comida brasileira –inclusive aqui, nesta coluna.
Fiquei matutando até que uma palavra mágica me estalou na cabeça: torresmo!
Torresmo, caldinho e cachaça. No boteco. Nada mais brasileiro.
Fritar torresmo em casa pode fazer uma lambança desgraçada, mas dá para evitar. É só escolher o estilo certo de torresmo.
Sim, porque nem todo torresmo é igual. Tem a pururuca de pele e aquele tolete carnudo, que pode ou não ser enrolado.
Essas modalidades exigem uma fritura rápida em gordura abundante e muito quente, daí a sujeira na cozinha.
Vamos fazer um torresminho (uso o diminutivo porque os pedaços são pequenos) de cocção lenta, em temperatura baixa, com a panela tampada. Operação limpa e segura. Sucesso garantido.
Esse, na verdade, é o torresmo original, antes de virar petisco de boteco. Torresmo que não é um produto em si, mas um subproduto da banha.
Antigamente, quando não havia refrigeração, o povo matava um porco e corria para dar um jeito de conservar todas as suas partes.
Algumas carnes eram assadas ou cozidas no dia. Outras viravam linguiça, salame, charque ou presunto. E havia a banha, feita com a gordura subcutânea do bicho (vulgo toucinho), ingrediente fundamental para cozinhar e conservar outros alimentos.
Pedaços de toucinho –contendo couro, gordura e alguma carne– vão para o tacho até a banha derreter. Os sólidos remanescentes, crocantes e dourados, são o torresmo.
Paciência é o ingrediente fundamental desta receita. Apesar de muito simples, ela requer tempo. Apressá-la põe tudo a perder. Aumentar o fogo vai queimar o torresmo, e torresmo queimado recende a churrasco de cabelo.
Use o fogo mais baixo possível –não o fogo baixo normal, mas o registro do gás anterior à chama alta, apenas o bastante para não apagar. Mexa constantemente.
É algo que pode demorar duas horas, mais ou menos, mas ainda não acabou. É preciso esperar o torresmo esfriar.
Logo depois de pronto, o torresmo é borrachudo e infernalmente quente. Como sei? Mordi e queimei a boca.
O torresmo precisa esfriar descoberto. Tampado, seu próprio vapor vai amolecer a pele.
Depois disso, você não precisa nem de geladeira para guardar o torresmo. Era assim que os antigos faziam.
TORRESMINHO
Dificuldade: fácil
Ingredientes
1 kg de barriga de porco com pele
1 colher (chá) de sal
4 dentes de alho descascados, inteiros
1 copo de cachaça branca ou vodca
Modo de fazer
-
Corte a barriga de porco e tiras com um quadrado de pele com 2 cm de lado. Misture todos os ingredientes numa panela não muito larga (o ideal é acomodar duas ou três camadas de toucinho sobrepostas).
-
Tampe a panela e ligue o fogo mais baixo possível. Mexa frequentemente. Quando o toucinho estiver imerso em líquido, destampe a panela para a água evaporar toda. Aí começa a fritura.
-
Com a panela novamente tampada, frite os torresmos, mexendo sempre, até ficarem dourados e com a pele pururucada.
-
Escorra o torresmo com uma escumadeira e espalhe-o num tabuleiro até esfriar totalmente. Guarde também a banha.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.