Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

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Descrição de chapéu Tóquio 2020

Por que mulheres ainda são minoria na delegação brasileira nas Olimpíadas?

Não dá para exigir os mesmos resultados quando não se tem os mesmos investimentos e condições

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Está começando o maior evento esportivo do mundo. Os Jogos Olímpicos trazem uma tradição secular e, até hoje, carregam e refletem também séculos de “tradições” discriminatórias.

É sempre importante lembrar que já na origem as Olimpíadas excluíram a possibilidade da participação feminina. Aliás, muito mais do que isso, o fundador dos Jogos da Era Moderna, Barão de Coubertin, chegou a dizer que as mulheres seriam sempre “imitações imperfeitas” dos homens e que a tentativa delas de praticar esportes “não é proveitosa nem para seu encanto nem mesmo para sua saúde".

Passado mais de um século de sua frase dita em 1896, ainda sofremos as consequências desse pensamento retrógrado que imperou por muito mais tempo do que deveria.

A edição do Japão é, sim, a mais “igualitária” se pensarmos na proporção entre homens e mulheres do mundo inteiro. Elas representarão 48,8% de todos os atletas na competição. É a menor diferença da história, e o objetivo do COI é que não haja mais nenhuma diferença em Paris-2024, quando os Jogos atingirão o tão sonhado 50-50.

Só que, para que ela seja efetiva, a mudança precisa acontecer também no contexto de cada país. E é nisso que o Brasil ainda fica atrás.

Dos 301 atletas da delegação brasileira, as mulheres representam 46,5%. A menor diferença aconteceu nos Jogos de Atenas, em 2004, quando a participação feminina chegou a 49% da delegação brasileira. De lá para cá, ainda que o COI tenha aumentado o esforço para buscar a igualdade nos Jogos, no caso do Brasil a diferença só aumentou.

Historicamente, a participação feminina era menor no geral porque não havia a mesma oferta de vagas para elas. Muitas modalidades olímpicas permitiam apenas disputas no masculino —o futebol, por exemplo, fazia parte dos Jogos desde 1900 para os homens, mas para as mulheres só foi permitido quase cem anos depois, em 1996.

A maratona, prova mais tradicional das Olimpíadas, existe para eles desde a primeira edição dos Jogos, mas a categoria feminina só foi oficializada em 1984. O boxe era a última modalidade que faltava e entrou no programa olímpico para as mulheres em 2012.

Duda, Debinha, Marta e Andressinha comemoram após a camisa 10 marcar gol contra a China nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020
Duda, Debinha, Marta e Andressinha comemoram após a camisa 10 marcar gol contra a China nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 - AFP

Foram necessários 116 anos até que finalmente as mulheres pudessem disputar as mesmas modalidades que os homens nos Jogos Olímpicos. Esse era o primeiro passo em busca da igualdade. Mas existe um passo muito maior que precisa ser dado por cada país para diminuir essas diferenças: o investimento.

E o Brasil demorou muito para entender que, antes de exigir resultados das mulheres no esporte, era preciso dar a elas condições para chegar até eles.

A primeira medalha das mulheres brasileiras (o ouro de Jaqueline e Sandra Pires no vôlei de praia) nas Olimpíadas veio em 1996. A primeira medalha olímpica conquistada por uma mulher brasileira numa modalidade individual veio só em 2008, com Ketleyn Quadros. É tão recente que a mesma Ketleyn está em Tóquio para competir mais uma vez no judô (a nossa porta-bandeira na cerimônia de abertura).

Faz só 25 anos que as meninas podem ligar a televisão por aqui e ver mulheres conquistando pódios nas Olimpíadas. Pódios esses que tardaram a vir não pela falta de capacidade delas, mas pelo descaso dos homens, que sempre comandaram o esporte sem enxergar as mulheres.

Até hoje, esse descaso e essa diferença histórica de investimentos se refletem justamente na diferença de participação das mulheres em relação aos homens na delegação brasileira.

Não dá para exigir os mesmos resultados quando não se tem os mesmos investimentos e as mesmas condições de trabalho. Se o COI já está mais perto da igualdade, o COB precisa trabalhar melhor por ela.

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