Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Renata Mendonça

Santos construiu tradição no futebol feminino, mas hoje mostra descaso

Postura do clube fora de campo ajuda a explicar por que as coisas não têm funcionado

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Não vou gastar linhas aqui falando da tradição de um dos maiores clubes de futebol do mundo. A história vitoriosa que trouxe o Santos até aqui cobra quando o clube apresenta resultados que não correspondem com ela. Um clube que teve Pelé, Coutinho e tantos outros no futebol masculino, que teve Marta e tem Cristiane de novo no futebol feminino, não conquistou a grandeza por acaso.

E se no futebol masculino vimos o Santos agonizar por conta de gestões irresponsáveis —brigou para não ser rebaixado no Campeonato Paulista nos últimos dois anos—, no futebol feminino o sinal de alerta já foi ligado (e segue sendo ignorado).

As chamadas Sereias da Vila construíram sua tradição há mais de uma década. Com Marta, Cristiane e companhia, encantaram o continente e conquistaram a América pela primeira vez em 2009. Inclusive, foi por causa delas que se criou a Libertadores feminina naquele ano. Campeão da Copa do Brasil em 2008, cobrou-se que no feminino fosse respeitada a mesma lógica do masculino (do campeão da Copa do Brasil disputar a Libertadores), e então a Conmebol organizou uma competição sediada no Brasil, com jogos em Santos, Guarujá e São Paulo.

Jogadoras do Santos na partida contra o Red Bull Bragantino, pelo Brasileiro feminino
Jogadoras do Santos na partida contra o Red Bull Bragantino, pelo Brasileiro feminino - Divulgação - 19.jun.22/Santos FC

São dois títulos da América, dois títulos de Copa do Brasil, quatro do Campeonato Paulista e um do Campeonato Brasileiro, este último conquistado em 2017 em cima do Corinthians. Desde então, o desempenho do Santos na competição nacional vem em queda. Foram quatro edições sem conseguir passar das quartas de final e na edição atual aconteceu o inexplicável: as Sereias da Vila, tão tradicionais, não conseguiram se classificar para o mata-mata do Campeonato Brasileiro.

Um time que tem Cristiane, artilheira do campeonato que fez sua temporada mais goleadora no futebol brasileiro desde que chegou em 2019. Que tem Brena, meio-campista de muita qualidade, Thaisinha, camisa 10 habilidosa, Ketlen, artilheira histórica do clube. Era um elenco, de certa forma, desequilibrado, é verdade, mas olhando para os oito times que se classificaram, é impossível entender como o Santos ficou de fora.

Talvez a postura do clube fora de campo ajude a explicar por que dentro de campo as coisas não têm funcionado há algum tempo. Se no futebol masculino, o Santos enfrentou muitos problemas de gestão nos últimos anos, no feminino a situação é ainda mais grave, porque que sequer há interesse em identificar o problema.

Procurei o clube e o presidente, Andrés Rueda, para um posicionamento sobre essa eliminação precoce no Campeonato Brasileiro feminino e a resposta foi: "não vamos nos pronunciar sobre essa desclassificação".

Está sobrando para as jogadoras esse posicionamento. A experiente zagueira Tayla falou após a partida na transmissão do SporTV e pediu desculpas aos torcedores, a meio-campista Laura Valverde, formada no clube, também, e Cristiane fez uma postagem: "Me perdoem, vocês não mereciam a campanha vergonhosa que nós fizemos nessa competição!", escreveu a camisa 11.

E o que dirão os dirigentes do Santos? O que faz um clube de tamanha tradição não disputar sequer uma semifinal no Brasileiro feminino desde 2017? Quais erros aconteceram (de planejamento, de gestão dentro e fora de campo) para que o time não conseguisse ficar entre os 8 melhores, enquanto equipes mais modestas, com menor investimento, como o Real Brasília e o próprio Grêmio, estivessem lá? O anúncio da demissão da treinadora (feito após a publicação da coluna) não pode ser a única resposta.

​​Por enquanto, o silêncio de quem comanda o clube é ensurdecedor. E esse descaso de um dos times mais tradicionais do futebol feminino é ainda pior do que a eliminação precoce no Brasileiro.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.