Renato Terra

Roteirista e autor de “Diário da Dilma”. Dirigiu o documentário “Uma Noite em 67”.

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Renato Terra

Derrite no país das maravilhas

Uma fábula sobre o impecável mundo das soluções fáceis

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Deitado ao pé de uma árvore, Derrite é despertado da soneca por um coelho preto. Acompanhado por 241 assessores, cinco viaturas, nove embarcações e dois helicópteros, Derrite inicia uma caçada ao animal.

Em cinco minutos, duas borboletas pretas aparecem mortas. Derrite não vê. É que seu olhar está apontado para o alto de uma árvore, onde se equilibra o Governador de Cheshire. Com um largo sorriso no rosto e os olhos esbugalhados, o frenético Governador de Cheshire entoa uma canção.

"Em flagrante suspeita/ Borboletas voam à espreita/ Ninguém falou, eu vi/ Pode vir Ibama, Luisa Mell ou o escarcéu/ Eu não tô nem aí."

Na busca incansável pelo Primeiro Coelho da Capital, Derrite se vê diante de uma porta muito pequena. Ao beber um copo de leite condensado, Derrite diminui e fica do tamanho de um comprimido de cloroquina. Arromba a porta com um mini aríete de aço. No arrobamento, um gato preto que passava pelo caminho é pisoteado.

A porta leva à embaixada da Hungria, onde Derrite encontra o Joalheiro Maluco. O Joalheiro Maluco ostentava um anel, um par de abotoaduras da marca Chopard, um rosário e um relógio Rolex. Derrite é convidado para o clube de tiro onde se comemorava o "desaniversário" do "desgolpe" de 1964. Para celebrar a data, cinco cisnes negros são abatidos.

Ilustração colorida de um perfil coelho preto com olho vermelho sobre um fundo azul escuro.
Ilustração de Débora Gonzales para coluna de Renato Terra de 4 de abril de 2024å - Débora Gonzales/Folhapress

Lambendo os beiços, Derrite continua sua caçada ao Primeiro Coelho da Capital para garantir que ninguém mais tenha sua soneca interrompida por animais. Como prova da eficiência de sua operação, apresenta 5.000 moscas apreendidas, 900 urubus presos e 56 viúvas negras mortas.

É quando Derrite se vê diante da Zambelli de Copas. Sem entender os comandos da Rainha, Derrite se vê em apuros.

Numa vertigem entre o caos e a nova ordem mundial, Derrite desperta da realidade imposta pela esquerda. Ao abrir os olhos, vê novamente o coelho preto. Derrite pega a cenoura que estava entre suas patinhas e fala: "Sai fora daqui seu filha da puta. Se você aparecer de novo, eu tô fudido".

Moral da história: "Se Derrite matar ou prender o coelho, sua caçada perde o sentido".

A propósito da caça ao coelho, Derrite aprovou um projeto de lei que proíbe a saidinha da toca, transferiu 34 coronéis, ganhou engajamento nas redes e nas ruas e, com isso, deu um salto para uma possível campanha para o Senado.

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