Ricardo Araújo Pereira

Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

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Ricardo Araújo Pereira

Bobagem infinita

Que fazer quando a vida nos atira queijo à cara? Comê-lo

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O leitor está familiarizado com o Teorema do Macaco Infinito? Se, como eu, é tão apreciador de teoremas como de macacos infinitos, estará certamente.

Mas, àquele reduzido número de leitores que não têm interesse especial por proposições demonstráveis e símios eternos, posso revelar que se trata de um teorema que afirma o seguinte: se um macaco martelar aleatoriamente as teclas de uma máquina de escrever durante um tempo infinito, acabará por, quase de certeza, datilografar um texto como, por exemplo, as obras completas de Shakespeare.

Não é, admito, um teorema a que se adira com facilidade. O bom senso nos diz que o mais provável é que o macaco use os primeiros dez minutos do tempo infinito para partir a máquina de escrever e depois passe o resto da eternidade comendo bananas infinitas.

Ilustração
Luiza Pannunzio/Folhapress

Além disso, é um teorema difícil de provar, sobretudo tendo em conta a escassez de macacos infinitos --que obstaculiza o progresso científico de várias maneiras. Foi dessa frustração teórica que parti para postular o muito mais facilmente verificável Teorema do Ser Humano Finito.

Diz assim: se certos seres humanos martelarem as teclas de um computador durante um tempo que não precisa de ser infinito, acabarão por, quase de certeza, conceber ideias próprias de um macaco.

A experiência decorre, com um sucesso assinalável, na internet. Nesta semana, a internet se lembrou de lançar um dos seus célebres "desafios". Este se chama "cheese challenge" e consiste no seguinte: lançar uma daquelas fatias quadradas de queijo à cara de um bebê. Era mesmo do que os bebês precisavam: mais comida na cara.

Várias pessoas, munidas de queijo e de bebê (sendo que não deviam ser autorizadas a possuir nem um nem outro), já fizeram o desafio e, como é evidente, registraram em vídeo. As imagens mostram vários bebês desprevenidos que levam uma fatia de queijo na cara.

Há três grandes tipos de reações: uns bebês começam a chorar; outros ficam mesmo surpreendidos com o impacto e param, estarrecidos, só com um olho a espreitar por trás da fatia de queijo. Como quem pensa: eu não acredito que um adulto que eu amo e respeito acabou de atirar um laticínio ao meu minirrosto. E, finalmente, há os que pacientemente tiram a fatia da cara e a comem. São os meus favoritos.

Que fazer quando a vida nos atira queijo à cara? Comê-lo.

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