Ricardo Araújo Pereira

Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Ricardo Araújo Pereira

Pacto de Varsóvia com o Diabo

Finalmente vamos saber como seria o Brasil na Idade Média

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Quando se soube que o novo presidente da Fundação Nacional de Artes era um terraplanista convencido de que o rock era música do Diabo, fiquei contente. Achei um avanço cultural importante. Como português, só conheço o Brasil a partir de 1500. Muitas vezes me pergunto: “Como seria o Brasil na Idade Média?”. Finalmente vamos saber.

Vão ser tempos maravilhosos de estudo da mentalidade medieval. Tenho pena que Dante Mantovani não tenha ainda proposto a queima de uma bruxa, mas acredito que seja uma questão de tempo. Acabou de chegar ao cargo e é injusto pedir a ele que satisfaça todas as necessidades culturais do Brasil no primeiro mês.

A teoria de Mantovani é interessante: os Beatles foram inventados pela União Soviética para destruir o capitalismo. A União Soviética, como se sabe, adorava os Beatles —e o rock em geral— mas proibia os cidadãos de os ouvirem, só para disfarçar. 

Ilustração
Publicada neste domingo, 8 de dezembro de 2019 - Luiza Pannunzio/Folhapress

Mantovani não se deixou enganar e sabe que os russos queriam destruir a sociedade ocidental da maneira mais eficaz. Eles tinham a bomba atômica, mas optaram por atacar com “Ob-La-Di, Ob-La-Da”. Espertos.

O ponto mais controverso do pensamento de Mantovani tem a ver com o seu receio de que, tendo em conta a imagem do Brasil, as pessoas queiram usar o país para, e cito, “as suas orgias sexuais”. 

Não é a primeira vez que ouço uma pessoa puritana se referir a orgias sexuais. Preocupadas com a confusão que sempre se estabelece quando se fala de orgias, pessoas como Mantovani são rigorosas: as orgias a que se referem são mesmo de caráter sexual. 

Uma confirmação para aquela gente de horizontes limitados, que não conhece orgias de outro tipo; uma desilusão para todos os que esperam há anos por uma boa orgia contabilística: uma dessas festas de que tanto se ouve falar, em que os convivas comparecem com notas devidamente preenchidas com o CPF e desatam libidinosamente a calcular o imposto de renda uns dos outros.

Como pai de duas adolescentes, agradeço a Mantovani que tenha teorizado sobre este nosso mundo plano no qual certas canções conduzem às drogas, ao sexo, ao aborto e à destruição do capitalismo. É importante elas verem que é possível delirar sem consumir entorpecentes.

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.