Ocorreu-me esta semana a afirmação célebre de Mao Tsé-Tung: "A revolução não é um jantar de gala". Quando os apoiadores de Trump invadiram o Capitólio e foram expulsos, aliás com bastante bonomia, pela polícia, uma mulher chamada Elizabeth, residente em Knoxville, no Tennessee, foi entrevistada e se queixou de ter sido aspergida com gás lacrimogêneo quando estava a tentar entrar à força no edifício.
O entrevistador pergunta: "Por que é que estava a tentar entrar?". Enfadada por ter de explicar o óbvio, Elizabeth responde: "Estamos a invadir o Capitólio, é uma revolução!".
A frase começou a correr na internet e é, neste momento, muito mais célebre do que a máxima de Mao, o que é justíssimo. A formulação de Elizabeth tem as seguintes vantagens sobre a de Mao: é mais simples, mais clara, e dá vontade de rir. Não há melhores estratégias para se fazer entender.
O tom com que ela diz "estamos a invadir o Capitólio, é uma revolução!" dava um tratado. São só oito palavras, mas a música com que são ditas é uma ópera de Verdi. Há surpresa, indignação, fúria, mágoa, raiva, ingenuidade.
Elizabeth compareceu em Washington à hora marcada. Provavelmente, pediu indicações na rua. "Sabe-me dizer como é que eu vou daqui para a revolução?" Alguém terá respondido: "Ah, sim. A revolução é ali ao fundo, na terceira à direita".
Ela dirige-se ao local indicado e desempenha o seu papel, invadindo um órgão de soberania. Nisto, sem qualquer respeito pela vontade dos revolucionários, a polícia recorre a gás de pimenta para os repelir. Nesse momento, Elizabeth começa a desconfiar, com choque, de que uma pessoa já não pode dar um golpe de Estado em paz. Ela é uma revolucionária cumpridora e moderada. "Pátria ou morte" parece-lhe um exagero escusado.
Pelas suas convicções, Elizabeth está disposta a sacrificar algum conforto. Mas não muito. O suficiente: deslocou-se do Tennessee até Washington, subiu a escadaria do Capitólio, talvez tenha empunhado uma bandeira e partido uma janela. E as autoridades, por mera teimosia, impedem-na de derrubar o regime. Que desaforo. Aposto que Elizabeth pediu o livro de reclamações e ninguém trouxe.
George W. Bush disse que as imagens da invasão do Capitólio eram próprias de uma república de bananas. Apropriadamente, os revoltosos eram cidadãos bananas.
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