Quando se diz que as eleições são a festa da democracia, é importante não esquecer a frequência com que as festas acabam com um convidado que se recusa a ir embora.
Todo o mundo se divertiu, agradeceu, saiu, os donos da casa querem ir para a cama, mas há sempre alguém que se mantém no sofá com o copo ainda meio cheio ou, pior, que fica junto da porta, já de casaco na mão, a contar uma última história.
Entretanto a história acaba, a gente pensa que finalmente a noite acabou, e o convidado acrescenta: Mas…”.
Às vezes nem precisa dizer mais nada. Fica só pendurado nessa adversativa, sonhador, examinando as possibilidades de prosseguir a conversa. Nessa altura, os donos da casa resolvem avançar também com o seu monossílabo: “Bom…”. E esse impasse pode durar minutos —que, àquela hora, são meses.
Donald Trump está a usar, na festa da democracia, todas as estratégias que os chatos usam nas festas
normais. E tem acrescentado a isso as manobras do garoto que não quer admitir que perdeu o jogo de futebol na rua.
Ele é, ao mesmo tempo, o inquilino despejado que não quer sair de casa e o menino derrotado que não quer voltar para casa.
Não é bem uma surpresa. Antigamente, uma pessoa com as ideias e a personalidade de Trump não se candidatava a presidente dos Estados Unidos: tentava assassinar o presidente dos Estados Unidos.
Tenho muitas saudades desses tempos. Mas estes nossos tempos também são interessantes, não o nego. A ficção sobre a presidência dos Estados Unidos estava muito necessitada de uma renovação.
Só em 2013 estrearam dois filmes sobre ataques terroristas à residência do presidente. Era o costume: os serviços secretos tinham de evitar que os bandidos entrassem na Casa Branca.
Vai ser refrescante assistir a fitas em que os serviços secretos têm de ser chamados para obrigar o presidente a sair da Casa Branca.
Impedir a entrada a quem não tem direito a lá estar é emocionante; mas forçar a saída a quem não tem direito também vai dar uma boa história.
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