Ricardo Araújo Pereira

Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

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Descrição de chapéu

Celebrações da ditadura têm sido criticadas, o que gera perplexidade

Depois de um ano como este, a tortura, a prisão e a morte parecem bons pretextos para uma festa

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A decisão de celebrar a ditadura militar brasileira tem sido criticada, o que não pode deixar de gerar grande perplexidade. Quem critica é, certamente, gente que tem gosto em estragar festas. É difícil compreender que certas pessoas possam ser contra algo tão bonito como uma celebração, e no entanto elas existem.

Depois de um ano como este, creio que estamos todos ansiosos por uma boa festa e celebrar a tortura, a prisão e a morte parece um pretexto tão bom como qualquer outro.

Aliás, a ditadura não é o único acontecimento da história brasileira que espera por uma celebração capaz. A própria Inquisição tem sido desconsiderada e há muito que merece uma lembrança e uma saudação, pelo modo como contribuiu para a manutenção da ordem e do respeito no Brasil.

soldado agride pessoa já cheia de machucados; em cima, uma flâmula com o lema "amanhã vai ser outro dia"
Luiza Pannunzio/Folhapress

Uma das mais importantes razões para celebrar a ditadura militar brasileira é a má imagem que ela, infelizmente, ainda tem. Os seus inimigos eram tão poderosos que conseguiram incutir na opinião pública a convicção de que um regime que suprime as liberdades, pratica a censura, prende, tortura e mata não é bom.

Essa ideia se disseminou com tal rapidez que ainda hoje há quem tenha a desfaçatez de designar a ditadura por “ditadura”. Talvez seja importante não esquecer a perfídia dos adversários da ditadura militar. Para dar apenas um exemplo, recordo aqueles que, nos calabouços da polícia política, eram capazes de se suicidar por enforcamento com os pés assentes no chão, fazendo com que as pessoas desconfiassem de que não teria havido suicídio.

Outra objeção frequente tem a ver com o fato de os militares terem prometido uma intervenção breve, embora a ditadura tenha durado 21 anos.

É uma discordância semântica, e não política, que tem a ver com o significado da palavra “breve”. Para os críticos da ditadura, mentes mesquinhas, 21 anos é muito tempo; para os militares, que têm uma noção mais vasta do tempo e da infinidade cósmica, 21 anos são um instante.

Por tudo isso, anseio por assistir às celebrações da ditadura militar. Até porque abrem caminho para outras festividades interessantes, como as igualmente merecidas cerimônias de homenagens ao câncer colorretal.

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