Ricardo Mussa

Engenheiro de produção, é CEO na Raízen desde 2020 e lidera a força-tarefa de transição energética e clima do B20 Brasil

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Ricardo Mussa

Carros híbridos são solução inteligente para descarbonizar o Brasil

País não tem vocação para adoção de carros exclusivamente elétricos

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Não tem muito segredo. Explorar as próprias potencialidades é a forma mais segura e eficiente de promover uma transição energética.

E o Brasil tem tudo para liderar esse processo na matriz de transportes. A bola da vez são os carros híbridos.

Muitas das principais montadoras estão engajadas nessa direção. Segundo a Anfavea (Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores), são R$ 117 bilhões de investimentos desde 2021 e R$ 66 bilhões só em 2024.

Montadoras exibem carros híbridos e elétricos em evento da Anfavea realizado em Brasília - Eduardo Sodré - 14.jun.2023/Folhapress

A estimativa é que ao menos 30 novos veículos que chegarão ao mercado nos próximos anos tenham como base projetos de modelos híbridos (a maioria do tipo flex), que funcionam a combustão e a eletricidade.

O que isso significa?

Significa que o mercado percebeu que, aqui no Brasil, os híbridos, funcionando com combustíveis líquidos com baixa pegada de carbono, podem ser uma via mais rápida para combinar transição e escala. E a beleza dos carros bioelétricos é que advêm de uma tecnologia brasileira —plenamente desenvolvida e testada aqui.

Outro ponto: há abundância de biocombustíveis —o país é o maior produtor global de etanol de cana-de-açúcar e a produção do etanol de milho vem crescendo rapidamente. E o mais importante: a solução dá ao consumidor o poder de escolha, rodando tranquilo nas capitais ou nos recantos mais distantes do interior.

Aqui no Brasil, basicamente por uma questão de infraestrutura e de dimensões territoriais gigantescas, a adoção de um carro exclusivamente elétrico não se desenha como a melhor alternativa para acelerar a redução de emissões. Pode ser caro e ineficiente.

Acredito firmemente que, na implementação de uma agenda verde, é importante valorizar o que o país tem de bom. Felizmente, governo e Congresso Nacional estão bastante atentos a essa premissa, fundamental para alavancar os investimentos divulgados recentemente por montadoras como Stellantis (Fiat, Peugeot e Jeep), Toyota, BYD e GWM.

No Palácio do Planalto, em 30 de dezembro, uma medida provisória implementou o Mover, programa que amplia as exigências de sustentabilidade da frota automotiva e estimula a produção de novas tecnologias nas áreas de mobilidade e logística.

Em 14 de março, em encontro com representantes da indústria automotiva, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, comentou que os carros híbridos flex foram um dos temas centrais da pauta e elogiou o potencial de transição energética do país.

Na véspera, a Câmara dos Deputados havia aprovado, com 424 votos favoráveis, o projeto de lei 4.516/2023 –o dos combustíveis do futuro. A iniciativa amplia a adição de etanol anidro na gasolina, estabelece uma elevação anual do teor de biodiesel no óleo diesel e prevê uma via de crescimento para o biometano, seguindo agora para o Senado.

Por fim, gosto de citar uma frase do professor Renato Romio, gerente da divisão de motores e veículos do Instituto Mauá de Tecnologia. Segundo ele, "considerando todo o CO2 produzido por um carro durante sua produção, utilização e descarte, um veículo híbrido, quando operando com etanol no Brasil, é provavelmente o veículo mais limpo do planeta produzido em massa."

Estamos no caminho certo. O Brasil tem boa parte das ferramentas para um papel de protagonista em um processo inteligente de descarbonização energética. E isso não é mais um sonho –já está se convertendo em realidade.

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