Roberto Simon

É diretor sênior de política do Council of the Americas e mestre em políticas públicas pela Universidade Harvard

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Roberto Simon

Ventos favoráveis

Cenário global e na América Latina beneficia o Brasil, ao menos por enquanto

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A agenda de reformas, a começar pela previdenciária, tem inevitavelmente consumido o debate sobre crescimento e investimento estrangeiro no Brasil. Mas vale levantar a cabeça por um instante e olhar o que se passa em nossa volta. O cenário externo, afinal, também determinará “se” e “como” o Brasil sairá do buraco.

Há razões para um otimismo moderado. Vem de fora uma brisa favorável em direção ao Brasil, ao menos por enquanto. 

No nível macro, as taxas de juros a quase zero (ou, por vezes, negativos em termos reais) do mundo desenvolvido continuam a empurrar investidores em direção aos emergentes.

 

A guerra comercial iniciada por Trump ameaça esfriar a economia global. Mas, por enquanto, ela não nos prejudicou diretamente e, por linhas tortas, ofereceu algumas oportunidades. Um exemplo: o protecionismo trumpista serviu de motivação adicional aos europeus para fechar o acordo comercial com o Mercosul. O risco de uma crise geopolítica —nas Coreias, Ucrânia, Irã ou Venezuela— preocupa, mas parece mais baixo do que ao longo dos últimos anos.

Aos investidores internacionais que olham especificamente para a América Latina, a posição relativa do Brasil também é favorável. Isso se deve menos aos méritos brasileiros, e mais aos problemas das outras grandes economias da região, como México e Argentina.

A situação mexicana relembra nosso passado recente. Durante a campanha presidencial, a pergunta era se Andrés Manuel López Obrador (AMLO) seria um “Lula”, capaz de conciliar responsabilidade macroeconômica com agenda social.

No poder, AMLO virou uma Dilma. Adotou “políticas públicas que carecem de sustento [...] em evidências”, segundo Carlos Urzúa, o ex-secretário de Finanças —e um de seus principais fiadores junto ao empresariado— em sua carta de demissão, entregue na semana passada.

Um setor em especial nos afeta: o de energia. No mundo das petroleiras globais, a frustração com o México aumenta a atratividade do Brasil.

Enquanto brasileiros tentam trazer investidores ao pré-sal e centrar negócios da Petrobras na área de prospecção, AMLO decretou uma moratória sobre novos leilões e quer expandir o papel da estatal Pemex.
A ideia é forçá-la a investir no refino, ao custo de mais de US$ 8 bilhões, financiados com isenções tributárias e aportes diretos do governo. Donos do dinheiro duvidam que dê certo. O anúncio dos detalhes do plano, nesta semana, derrubou títulos da empresa e a cotação do peso mexicano.

Mais ao sul, a Argentina parece interditada a investidores até o desenlace das eleições presidenciais. A relativa melhora na economia, com queda na inflação e valorização do peso, beneficiou a candidatura de Mauricio Macri.

As últimas pesquisas o colocam em empate técnico no segundo turno, em novembro, contra a chapa peronista, de Alberto Fernández e Cristina Kirchner. Mas até o fim do ano o setor privado não pagará para ver. 

Uma crise na Argentina, nosso terceiro maior parceiro comercial, é ruim para a economia brasileira. Mas, de novo, o limbo argentino faz investidores voltarem atenções a lugares como o Brasil.

Sozinhos, ventos favoráveis não levarão o barco brasileiro. É preciso saber içar a vela e ter sorte para que eles perdurem. Há riscos lá fora, como um aumento da taxa de juros nos EUA ou uma escalada na guerra comercial. A tranquilidade pode ser curta.

As opiniões expressas acima não refletem necessariamente a posição do Council of the Americas

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