Roberto Simon

É diretor sênior de política do Council of the Americas e mestre em políticas públicas pela Universidade Harvard

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Roberto Simon

A largada na Argentina

Campanha presidencial começa para valer no próximo domingo

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Os principais candidatos da eleição presidencial argentina, em outubro e novembro, já estão definidos. De um lado, Mauricio Macri tenta a reeleição. De outro, domina o campo opositor a fórmula “Fernández-Fernández”: o ex-chefe de gabinete do governo Néstor Kirchner, Alberto Fernández, com a ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner de vice.

Marcadas para o próximo fim de semana, as disputas primárias argentinas confirmarão as candidaturas. Mas o voto primário não será mera formalidade —virão, com ele, sinais importantes sobre o futuro da corrida eleitoral.

Todos os argentinos devem ir às urnas, e o resultado mostrará, de forma precisa, quantos votos Macri e Fernández têm até agora. Os rumos da corrida e as reações do mercado dependem de quem largar na frente.

A pré-campanha argentina foi marcada por um movimento duplo: a polarização entre o macrismo e o “neo-kirchnerismo”, neutralizando qualquer terceira via, e uma virada dos dois lados ao centro. Cristina deu o primeiro passo.

Escolheu Fernández — seu histórico desafeto e uma figura bem mais centrista — não apesar de suas divergências com ele, mas precisamente em razão delas. O candidato começou falando em pagar as contas com o FMI, conter o orçamento e construir pontes com adversários. O recado: não haverá retorno aos anos Cristina.

Fernández faria uma política econômica que a ex-presidente “pode apoiar, mas jamais implementar”, resumiu Emmanuel Álvarez Agis, cotado para ser ministro em um governo da oposição. 

Macri reagiu oferecendo a vaga de vice ao senador Miguel Ángel Pichetto, um peronista de centro-direita. O cálculo é que Pichetto atrairá setores do peronismo inalcançáveis ao presidente.

As últimas pesquisas projetam, dentro da margem de erro, um empate no segundo turno entre Macri e Fernández. Mas a chapa opositora enfrenta uma rejeição cerca de dez pontos mais alta.

Esse dado é especialmente importante: a maioria dos argentinos votará tentando impedir que um dos lados ganhe, mais do que em razão do apoio convicto a um candidato. O cenário mais favorável a Macri despertou um otimismo moderado em grandes investidores e detentores de dívida argentina.

No caminho às primárias, Fernández mudou o tom. Em entrevistas, sugeriu baixar na marra os juros sobre o principal título do governo, as chamadas “Leliq”,e usar o dinheiro para expandir o gasto fiscal primário. Passou também a defender a desvalorização cambial para melhorar a balança comercial.

Na imprensa argentina, há teorias diversas sobre os motivos da mudança de discurso. Seria uma forma de animar a base kirchnerista. Talvez ampliar a volatilidade financeira, já que a estabilidade do câmbio e a tendência de queda da inflação têm beneficiado Macri.

Se as primárias do dia 11 mostrarem que o caminho à reeleição do presidente não será tão fácil, os donos do dinheiro passarão a levar as propostas de Fernández mais a sério. O atual otimismo do mercado parece exagerado.

Afinal, a campanha de Macri terá o desafio de convencer a população de que, passados quatro anos, o fracasso econômico ainda é culpado kirchnerismo. Embora tenha a desvantagem da rejeição inicialmente mais alta, a oposição poderá fazer uma pergunta simples aos eleitores: Você está melhor hoje do que antes do governo Macri? Para a esmagadora maioria dos argentinos, a resposta é “não”.

As opiniões expressas acima não refletem necessariamente a posição do Council of the Americas

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