Roberto Dias

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Roth e Wolfe pertenceram a uma categoria que só faz encolher

Escritores com peso no debate público parecem cada vez menos numerosos

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Philip Roth era o maior escritor vivo dos EUA. Sua morte ocorreu oito dias após a de outro americano tornado famoso pela palavra escrita, Tom Wolfe.

Em suas obras, Roth versou sobre o politicamente correto, o desejo sexual e a história política de seu país. Suas opiniões gozavam de visibilidade. Considerava George W. Bush um presidente “pior do que o pior” que os EUA tiveram (a frase é anterior ao governo Trump).

Wolfe dissecou a vida na Nova York umbigo-do-mundo, explorou os problemas do sistema judicial e discutiu a neurociência. Jamais faltaram holofotes para as polêmicas que alimentou —ele afirmava, por exemplo, que a pornografia reduz as taxas de nascimento.

Os dois foram representantes clássicos de uma categoria que parece ir morrendo sem se renovar: a dos escritores com peso no debate público.

Não é por acaso. Como outras áreas, a literatura sofre com as mudanças de hábitos; no Brasil, o mercado editorial encolhe seguidamente. 

A história mostra que o peso das artes não é estático. Antes da fotografia e do cinema, reinavam pintores e escultores. Leonardo da Vinci trocou Florença por Milão por motivos além dos artísticos, como descreve Walter Isaacson na ótima biografia dele: “A competição entre os governantes não era apenas militar, mas também cultural, e Leonardo procurava ser útil nos dois campos”. 

Já a música, talvez a arte que vá navegando com mais sucesso na transição tecnológica, viu movimento inverso. Exemplo próximo está no samba. Seus músicos antes eram marginalizados, como relata Lira Neto em “Uma História do Samba”. Hoje, saem em defesa de presidentes e são troféus para fotos —Zeca Pagodinho e João Doria que o digam.

Numa época em que a disputa pela atenção das pessoas é brutal, a imersão demandada pela palavra escrita parece menos sedutora. É um baita problema, pois a tecnologia ainda não entregou maneira melhor de aprofundar raciocínios.

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