Eric Renato Chaves, de 47 anos, circulava pelo Mauá Plaza Shopping, na Grande São Paulo, quando notou que estava sendo seguido por dois seguranças do estabelecimento.
Em um primeiro momento, de acordo com seu relato à Justiça, a perseguição ocorreu a certa distância, com os seguranças sempre ao seu redor quando entrava em uma loja ou mesmo no instante em que resolveu se sentar em um banco para descansar.
A abordagem logo evoluiu para uma ação mais direta, com um pedido para que deixasse o local quando reclamou do fato de estar sendo vigiado.
"Por que tenho de sair? Não estou fazendo nada de errado", perguntou. "Sai fora daqui", ouviu em meio a empurrões.
A cena ocorreu em outubro de 2021.
No processo aberto contra shopping, Chaves disse ter sido humilhado e que "a única explicação para tamanho ódio era a cor da sua pele ou a vestimenta, que talvez chamasse atenção por ser um cantor de rap".
O shopping se defendeu na Justiça dizendo que os fatos não ocorreram da forma como foram descritos na acusação e que não houve injúria racial.
"O empreendimento recebe, diariamente, rappers, metaleiros, homosexuais, transsexuais, heteros, idosos, crianças, adolescentes, ricos, pobres, negros, orientais, e a todos pretende promover a melhor experiencia possível, porque essa é sua finalidade", afirmou à Justiça.
Segundo o estabelecimento, Eric teve uma equivocada impressão dos fatos e as imagens das câmeras de segurança mostram que não houve perseguição. "Ele circulou livremente sem qualquer constrangimento", declarou.
O shopping declarou que, em dado momento, o cantor abordou o segurança de forma exaltada, e disse que o funcionário respondeu "polidamente". O motivo da ação, afirmou o empreendimento à Justiça, não é "nobre causa da igualdade", mas o "prêmio financeiro".
O cantor de rap perdeu o processo em primeira instância, mas conseguiu reverter a decisão no Tribunal de Justiça. O shopping foi condenado na semana passada a pagar uma indenização por danos morais de R$ 25 mil, valor que será acrescido de juros.
O desembargador Alfredo Attié disse na decisão que "está claro pelas provas produzidas" que Eric foi seguido pelos seguranças "sem qualquer motivação aparente, senão em razão de se tratar de pessoa negra, bem como pelos seus trajes".
"Foi vítima do chamado perfilamento racial: seguido, vigiado e indevidamente constrangido a se retirar", declarou o magistrado.
O shopping ainda pode recorrer.
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