Rômulo Saraiva

Advogado especialista em Previdência Social, é professor, autor do livro Fraude nos Fundos de Pensão e mestre em Direito Previdenciário pela PUC-SP.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Rômulo Saraiva
Descrição de chapéu Folhajus inss

Má vontade do Judiciário em dar a revisão da vida toda

Motivo talvez seja desestimular novas ações ou mesmo criar dificuldade na esperança de que o INSS pague a quem deve

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Não é porque o STF (Supremo Tribunal Federal) reconheceu ano passado o direito à revisão da vida toda que as coisas iriam se resolver tudo automaticamente.

Emblemática, a decisão do Supremo é praticamente um assunto resolvido e sem chance de mudança significativa, embora ainda pendente de um singelo recurso que pode promover pequenos ajustes. Mas sua essência é preservada. Os aposentados –que se enquadrarem nos seus requisitos– vão poder contar com este direito.

No entanto, como o INSS não revisa amigavelmente, os aposentados enfrentam uma série de dificuldades no Judiciário, que não anda nada feliz em abarcar avalanche de demandas previdenciárias.

Fachada da sede do INSS, em Brasília - Gabriela Biló - 14.abr.2023/Folhapress

Invisível e silenciosamente, há uma espécie de má vontade por parte de juízes em garantir que a revisão chegue rapidamente ao seu destinatário. Evidente que isso não se aplica a todos magistrados. Mas os que não querem têm se valido de arsenal de desculpas e subterfúgios para ignorar o que foi reconhecido pelo STF. Vai desde a negativa de aumentar imediatamente a renda até suspender o andamento das ações.

O repertório de motivos para frear a revisão é vasto. Talvez seja desestimular novas ações ou mesmo criar dificuldade na esperança de que o INSS pague a quem deve direta e paralelamente.

Logo depois que o STF anunciou seu posicionamento ano passado alguns juízes negaram o aumento fundamentando a falta de publicação da decisão no diário oficial. Em seguida, o ministro Alexandre de Moraes determinou que em 10 dias o INSS apresentasse cronograma de pagamentos, o que não ocorreu. Isso alimentou expectativas de que o assunto seria resolvido em larga escala e gerou novas suspensões de prazos.

Para sensibilizar a Justiça, foi a vez do Instituto pedir adiamento da revisão, pois, caso fosse dada, as agências previdenciárias e o sistema de informática não suportariam tanto trabalho. Quando finalmente a decisão foi publicada na imprensa oficial, passou-se a dizer que era melhor esperar o julgamento do recurso do INSS, mesmo sabendo da chance quase nula em ser alterada. Como o STF não avaliou este recurso, este tem sido o principal motivo para deixar milhares de processos suspensos.

Além deste, o novo motivo agora é a criação pelo Conselho da Justiça Federal de grupo de trabalho formado por juízes, advogados e servidores (Portaria 379 do CJF, de 05/06/2023) que irá estabelecer os parâmetros para aplicar a revisão da vida toda, para fins de cálculo dos valores devidos nos processos judiciais. Embora a lei não preveja que a existência de grupo de trabalho seja motivo de suspensão processual, alguns juízes estão usando esse fato novo para se esquivar de decidir o aumento e, novamente, suspendendo a revisão.

A portaria do CJF estabeleceu o prazo de 60 dias para os grupos de trabalho apresentassem as suas sugestões, com enfoque na confecção de planilha para simular a revisão da renda mensal inicial do benefício. Ora, a existência de simulador não é (ou não deveria) exatamente ser motivo para brecar processos judiciais. Quem não se sentir satisfeito com algumas dessas justificativas, pode recorrer à próxima instância. Gasta tempo, é penoso e pode não funcionar. Isso tudo só revela o fato de que o Judiciário vem apresentando uma má vontade tremenda em dar de imediato a revisão, num assunto que é praticamente impossível de ser drasticamente reformado pelo STF.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.