Ross Douthat

Colunista do New York Times, é autor de 'To Change the Church: Pope Francis and the Future of Catholicism' e ex-editor na revista The Atlantic

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Não há caminho óbvio para mudar estagnação de DeSantis nas pesquisas

Debates têm mais chances de definir campanha do republicano do que qualquer movimento que seu time faça agora

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The New York Times

É possível "reiniciar" rapidamente uma campanha presidencial em dificuldades? Os especialistas devem torcer para que sim, caso contrário nossa coluna de aconselhamento se torna um pouco irrelevante.

Pensando nas recentes candidaturas primárias dos EUA que pareciam ceder e depois se recuperar —de John Kerry em 2004 a John McCain em 2008 e Joe Biden em 2020—, é difícil identificar viradas estratégicas brilhantes. Em vez disso, o que vemos são candidatos com pontos fortes fundamentais que permanecem até que os eventos conspirem para tornar essas características mais relevantes, as fraquezas de seus oponentes mais expostas e suas campanhas repentinamente triunfantes.

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O governador Ron DeSantis realiza seu primeiro comício como candidato presidencial, na Eternity Church, em Iowa - Damon Winter - 30.mai.23/The New York Times

Para Ron DeSantis, atualmente envolvido em um reinício de campanha após meses de pesquisas estagnadas, não há como vender esses estudos de caso para seus doadores inquietos. "Não se preocupe, vamos esperar que as coisas saiam do nosso jeito no último minuto" não é exatamente um grito de guerra inspirador, especialmente para um candidato que por um breve período parecia prestes a se tornar o candidato republicano favorito para 2024, mas agora está 20 ou 30 pontos atrás de Donald Trump.

É fácil listar coisas que ele poderia fazer de forma diferente. Algumas delas, como falar menos sobre a era da Covid e buscar o combate com a grande mídia, são óbvias o suficiente para que a campanha já esteja tentando se adaptar. Outras possibilidades parecem ainda iludir sua equipe —acima de tudo, os benefícios de sair um pouco da caixa conservadora do movimento, fazer grandes promessas em política econômica e social e evitar uma repetição da campanha ideologicamente autolimitada de Ted Cruz em 2016.

Mas qualquer benefício dessas mudanças provavelmente será incremental, não drástico. Enquanto isso, o reinício tão frequentemente solicitado a DeSantis —a ideia de que ele precisa se esforçar após a inaptidão de Trump para o alto cargo— é uma teoria apoiada por exatamente zero evidências de pesquisas.

A realidade é que, se houvesse algum caminho óbvio para subir nas pesquisas nesta fase da campanha, outro candidato republicano provavelmente o teria descoberto. Como Nick Catoggio do Dispatch, que não é um grande admirador de DeSantis, apontou há uma semana, o apoio ao governador da Flórida "excede a parcela combinada de todos os candidatos que estão atrás dele, campo que inclui um senador em exercício, dois ex-governadores e o mais recente ex-vice-presidente dos EUA".

Vivek Ramaswamy, o amigo de Trump frequentemente retratado como a figura de destaque no campo anti-DeSantis, tem apenas 5% na média de pesquisas da RealClearPolitics. A figura mais francamente anti-Trump, Chris Christie, está em 2%. O favorito dos doadores da Flórida, Tim Scott, está com 3%.

Esses números fazem os 20% estagnados de DeSantis parecerem muito bons, e seu posicionamento adjacente a Trump, uma jogada muito mais forte do que as alternativas.

Sim, não é tão forte quanto parecia durante a frágil fase de Trump após as midterms. Mas a afirmação que fiz na época –de que Trump tinha probabilidade muito maior de perder em um desfoque progressivo do que num nocaute– não é demonstrada pelo fato de que ele ainda não se apagou.

Muito pelo contrário: são precisamente a recuperação e a resiliência de Trump em meio a múltiplas acusações que sugerem a inutilidade de um ataque ao estilo Christie, enquanto deixa a estratégia mais protegida de DeSantis com um caminho estreito, mas ainda perceptível.

Esse caminho é o seguinte: em Iowa, DeSantis precisa que alguns dos eleitores muito conservadores que temporariamente se afastaram de Trump após as eleições de meio de mandato se afastem novamente. Então, em New Hampshire, ele precisa do ímpeto de uma vitória em Iowa para reconciliar os moderados do partido com a necessidade de se unir a ele, em vez de ficarem com Scott, Christie ou Nikki Haley. Faça essa combinação, e ele estará bem posicionado para a Carolina do Sul, Flórida e outros.

O governador da Flórida, Ron DeSantis, candidato presidencial republicano, em ato de campanha em Washington
O governador da Flórida, Ron DeSantis, candidato presidencial republicano, em ato de campanha em Washington - Pete Marovich - 23.jun.23/The New York Times

Não há razão para esperar que as coisas aconteçam dessa maneira. Vimos como os partidários de Trump sempre parecem querer voltar para ele e como os céticos de Trump sempre parecem incapazes de se unir de forma eficaz. Não vimos potência suficiente de DeSantis para esperar que ele quebre esses padrões.

Mas ficar em 20% por um longo tempo e depois obter uma vitória inicial nas primárias para a consolidação é um cenário imaginável, ao menos, e que acompanha exemplos recentes de campanhas que primeiro decepcionaram e, por fim, cresceram. Enquanto isso, todos os outros cenários para derrotar Trump, seja envolvendo os candidatos atuais ou algum cavaleiro branco que entre tarde, parecem desejos de republicanos que não querem se contentar com DeSantis.

Talvez isso mude na temporada de debates, cujas bolas paradas têm mais chances de redefinir a campanha de DeSantis do que qualquer movimento que seu time faça agora, enquanto dá a seus rivais as melhores oportunidades de abalar seu domínio no segundo lugar.

Enquanto se aguardam esses confrontos, porém, a decepção com DeSantis não muda o fato de que o cara estagnado em segundo tem mais chances de terminar em primeiro do que todos os outros distantes.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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