Ross Douthat

Colunista do New York Times, é autor de 'To Change the Church: Pope Francis and the Future of Catholicism' e ex-editor na revista The Atlantic

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Biden deveria ceder a republicanos na migração se quiser se reeleger

Grande fluxo migratório na fronteira sul, como o que ocorre agora, tende a favorecer conservadores nas urnas

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The New York Times

Ao longo dos últimos meses, a pergunta incrédula —como Donald Trump pode estar liderando as pesquisas; deve haver algum engano— deu lugar à evidente realidade: algo na vida americana precisaria mudar para que Joe Biden seja favorecido para a reeleição no pleito de novembro de 2024.

A boa notícia para Biden é que é fácil imaginar desenvolvimentos que ajudariam sua campanha de reeleição. Há muito espaço para melhorias —nos salários ajustados pela inflação, nas taxas de juros, no mercado de ações— que poderiam melhorar o humor econômico do país. Apenas sustentar a trajetória econômica dos últimos meses até o próximo verão quase certamente aumentaria a aprovação de Biden.

Homem branco grisalho de óculos escuros com céu azul ao fundo
O presidente dos EUA, Joe Biden - Mandel Ngan - 20.dez.2023/AFP

Enquanto isso, os iminentes julgamentos de Trump prometem direcionar os olhos dos eleitores persuadíveis para o que eles não gostam no ex-presidente. Em ambos os casos, no entanto, o presidente não tem muito controle sobre os eventos.

No entanto, há uma questão que está prejudicando Biden, onde o Partido Republicano está —oficialmente, pelo menos— aberto a trabalhar com o presidente, desde que ele esteja disposto a romper com os grupos de interesse de seu próprio partido: a segurança da fronteira sul, onde as apreensões de imigrantes continuam altas.

Existe uma interpretação comum do debate sobre imigração que trata uma fronteira descontrolada como um problema de imagem: as pessoas estão satisfeitas o suficiente em ter imigrantes em suas próprias comunidades, mas veem a desordem na fronteira em suas telas de televisão, e isso as faz temer a incompetência do governo.

Às vezes, essa interpretação vem acompanhada da sugestão de que as pessoas que mais se preocupam com a imigração são os eleitores rurais que raramente veem um imigrante na vida real, ao contrário dos urbanitas que experimentam e apreciam a diversidade.

O último ano revelou os limites dessa interpretação: coloque bastante estresse em Nova York ou Chicago e você terá demandas por controle de imigração até nas partes mais liberais do país. Nunca houve uma boa razão para pensar que a ansiedade em relação à imigração se manifesta apenas de forma telescópica, entre pessoas cujo principal acesso ao assunto são os alarmantes títulos do Fox News.

Considere um novo artigo de Ernesto Tiburcio e Kara Ross Camarena —respectivamente um estudante de doutorado em economia na Universidade Tufts e uma analista do Departamento de Defesa— que usa dados do governo mexicano para rastrear o fluxo de imigrantes mexicanos para os condados nos EUA e descobre que a exposição a imigrantes aumenta o conservadorismo na população.

À medida que o fluxo de imigrantes aumenta, também aumenta o voto nos republicanos nas eleições para a Câmara. E o fluxo também desloca a política local para a direita.

Isso sugere que um liberalismo pró-imigração enfrenta um ato de equilíbrio: altas taxas de imigração tornam os eleitores mais conservadores. Assim, uma política que seja radicalmente aberta é uma boa maneira de eleger políticos que preferem a fronteira fechada.

Você pode ver esse padrão na política dos EUA em geral. A população estrangeira aumentou durante a presidência de Obama, passando de 38 milhões para 44 milhões, e como parte da população geral, estava se aproximando dos níveis do final do século 19 e início do século 20 —um fato que ajudou Donald Trump a aproveitar o sentimento anti-imigração para a indicação republicana e a Presidência.

Então, sob Trump, houve alguma estabilização, o que provavelmente ajudou a desarmar a questão para os democratas, aumentar a simpatia americana pelos imigrantes e tornar a vitória de Biden possível.

Mas, desde 2020, os números têm aumentado rapidamente mais uma vez, e a estimativa da parcela da população dos EUA nascida no exterior agora excede os níveis do último grande período de imigração. O que, novamente, empurrou alguns eleitores de Biden de volta para Trump.

O controle de fronteiras em uma era de fácil movimentação global não é um problema simples, mesmo para governos conservadores. Mas a política importa, e, embora as medidas que a Casa Branca está supostamente considerando como concessões potenciais aos republicanos —aumentar o padrão para pedidos de asilo, acelerar os procedimentos de deportação—, não sejam exatamente uma promessa de concluir o muro na fronteira, elas devem ter algum efeito no fluxo de migrantes para o norte.

O que as torna uma espécie distinta de concessão política: um "sacrifício" que esta Casa Branca tem todas as razões políticas para oferecer, porque a reeleição de Biden se torna mais provável se os republicanos aceitarem.

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