Ross Douthat

Colunista do New York Times, é autor de 'To Change the Church: Pope Francis and the Future of Catholicism' e ex-editor na revista The Atlantic

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Descrição de chapéu Partido Republicano

Republicanos rivais de Trump emanam energia de perdedor nas primárias

Só resta aos adversários do ex-presidente tentarem se unir, mas a vitória mesmo assim seria muito improvável

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The New York Times

Não tenho certeza se um encontro de candidatos presidenciais já transmitiu uma energia de perdedor tão forte, para usar uma das palavras favoritas do 45º presidente dos Estados Unidos, como os republicanos que recentemente participaram do segundo debate das primárias do partido na Biblioteca Presidencial Ronald Reagan.

Uma pesquisa rápida do 538/Washington Post/Ipsos e um grupo da CNN mostraram Ron DeSantis como o vencedor da noite, e isso parece certo: depois de meses de campanha e dois debates, DeSantis ainda é o único candidato que não se chama Donald Trump e que tem um argumento claro para ser presidente e um histórico que se encaixa na trajetória e no clima de seu partido.

No palco com seus supostos rivais, isso o torna o homem caolho no reino dos cegos. Contra Trump, isso provavelmente será bom para um distante segundo lugar.

Candidatos das primárias do Partido Republicano no segundo debate da legenda, na California; Donald Trump não compareceu
Candidatos das primárias do Partido Republicano no segundo debate da legenda, na California; Donald Trump não compareceu - Frederic J. Brown - 27.set.23/AFP

O caminho que eu (e outros) vejo para o governador da Flórida, em que ele concorreria com base em seu sucesso político e os eleitores se inclinariam para ele por cansaço com o impacto destrutivo de Trump nas fortunas republicanas, foi fechado —pelas próprias lutas de DeSantis, pelo efeito de mobilização das acusações contra Trump e agora pelos sólidos números de pesquisas eleitorais de Trump contra Joe Biden. O caminho que outros especialistas afirmavam ver para os candidatos não-Trump, em que eles deveriam se opor diretamente ao ex-presidente e denunciá-lo como uma ameaça à República, nunca foi realista, exceto para um candidato de protesto, como Chris Christie está demonstrando.

Então, o que resta para os rivais de Trump além do fracasso? Apenas isso: eles podem se recusar a simplesmente repetir 2016, recusar a distinção patética de que têm força política momentânea por terminar em terceiro lugar nas primárias e descobrir uma maneira de unir seus poderes contra Trump.

Este não é um caminho para uma vitória provável. Trump está muito mais forte do que há oito anos, quando a batalha acirrada pelo segundo e terceiro lugares em New Hampshire e Carolina do Sul o ajudou a construir um impulso irrefreável —a ideia de uma chapa unida Ted Cruz-Marco Rubio foi considerada, mas nunca alcançada. Ele também está muito mais forte do que Bernie Sanders há quatro anos, quando Pete Buttigieg e Amy Klobuchar trocaram as satisfações infladoras do ego das acumulações de delegados por um lugar na campanha de Biden.

Mas a unidade tem sido o caminho não percorrido pelos republicanos anti-Trump até agora, e parece ser o único cenário em que essa corrida permanece remotamente interessante após os resultados de Iowa.

Um problema, é claro, é que a unidade ainda requer um porta-estandarte —teria sido Cruz em primeiro lugar e Rubio em segundo em 2016, por exemplo, o que provavelmente é uma das razões pelas quais Rubio não fez o acordo—, e a vantagem de DeSantis sobre seus rivais não é grande o suficiente para que eles sintam que precisam se submeter a ele.

Outro problema, central para a resiliência de Trump, é que os diferentes eleitores não-Trump querem coisas muito diferentes. Alguns querem que DeSantis execute ambições populistas de forma mais eficaz ou a nova abordagem do trumpismo contida na performance artística de Vivek Ramaswamy. Outros querem a promessa de uma restauração de George W. Bush oferecida por Nikki Haley e Tim Scott; outros ainda querem o absolutismo do "Never Trump" de Christie. Os eleitores de Ramaswamy votariam em Scott e Haley? Duvidoso. Os eleitores de Scott ou Christie aceitariam DeSantis? Provavelmente, mas ele ainda não chegou a esse ponto.

Enquanto isso, apesar da afirmação de Trump de que ele não escolherá como seu vice-presidente alguém que tenha concorrido contra ele, ele já foi conhecido por mudar de ideia —e essa realidade influencia as ambições de Ramaswamy (que pelo menos espera um cargo no gabinete, no estilo Buttigieg), Scott (que parece estar concorrendo para ser vice-presidente desde o início) e até mesmo Haley. Da mesma forma, a possibilidade de uma condenação antes da convenção republicana de alguma forma impedir sua coroação cria incentivos teóricos para a acumulação de delegados, por mais remota que seja a chance.

Todos esses incentivos provavelmente são suficientes para evitar uma consolidação real entre os rivais. Mas se os republicanos não-Trump estivessem realmente comprometidos com sua causa maior, eles estariam planejando agora para a manhã seguinte a Iowa. Se Haley ou (menos provável) Scott ficarem em segundo lugar e DeSantis cair para terceiro, o governador da Flórida deveria desistir e apoiar o vencedor. Se DeSantis vencer, mas Haley estiver liderando em New Hampshire, então ele deveria oferecer um lugar em sua chapa, e ela deveria aceitar. Christie, então, obviamente deveria desistir antes de New Hampshire e apoiar o vencedor de Iowa também. (Ramaswamy, suponho, eventualmente apoiaria Trump.)

Como essa manobra ainda deve levar Trump a vencer as primárias por "apenas" 60% contra 40, em vez de 52% versus 21%, 14%, 7% e 6%, um último obstáculo para essa consolidação é o medo de parecer um pouco ridículo —como Cruz e Carly Fiorina fazendo campanha como supostos companheiros de chapa nos momentos finais das primárias de 2016.

E isso também faz parte de como Trump sempre esmagou seus oponentes republicanos. Eles tendem a hesitar, como Prufrock [poema de T. S. Eliot], à beira da audácia, enquanto Trump joga os dados sem uma única dúvida ou hesitação.

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