Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro

O dado revelado

Quem descobriu que, com Pelé e Garrincha, o Brasil nunca perdeu?

“Garrincha e Pelé, juntos, nunca perderam um jogo pela seleção”. Quantas vezes você já não escutou essa informação? E continuará escutando, porque é um fato, uma façanha e, pelo visto, nenhuma outra dupla de craques a igualará. Entre 1958 e 1966, foram 40 jogos de Garrincha e Pelé com a amarelinha, com 36 vitórias e quatro empates, envolvendo a conquista de duas Copas do Mundo, em 1958 e 1962, e muitas glórias pelo caminho. Feliz de quem foi brasileiro e viveu aquilo tudo.     

Hoje, esta informação está tão batida que é como se sempre tivesse sido de conhecimento geral. Mas não é bem assim. A primeira vez em que ela saiu em letra de forma foi em meu livro “Estrela Solitária — Um Brasileiro Chamado Garrincha”, em 1995. Só que, apesar de tê-la divulgado, não fui seu descobridor. Nós a devemos ao advogado carioca João Carlos Eboli, grande sujeito, grande vascaíno e grande devoto do futebol brasileiro. 

Como Eboli chegou a ela? Lembrando-se de todos os jogos da seleção que, desde garoto, acompanhara pelo rádio, jornais, revistas, cinema, televisão e no próprio Maracanã, e se dando conta de que nunca assistira a uma derrota com Pelé e Garrincha no time. Alertou-me para isto, e o resto foi fácil —bastou recorrer aos arquivos para confirmá-la. E, assim, um novo recorde se incorporou à magia do futebol. 

Mas, em 1995, para Eboli e eu, aquela era só uma informação curiosa. Não a achamos relevante. Talvez por isto eu tenha me limitado a lhe agradecer genericamente por sua colaboração no livro. Só aos poucos fomos percebendo a importância que as pessoas davam ao fato. Não era um mero dado estatístico, mas a revelação de que, com Pelé e Garrincha, o Brasil deixava de ser o vira-lata assolado por mil complexos.

Há 23 anos que eu e o futebol brasileiro devemos este crédito a João Carlos Eboli. Da minha parte, faço-o agora, com muito prazer.

Garrincha e Pelé em treino da seleção brasileira, em 1959
Garrincha e Pelé em treino da seleção brasileira, em 1959 - UH/Folhapress
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