Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro

Mestre de Oswald

Emilio de Menezes inspirou-o no físico, no humor e nos trocadilhos

Parnasianos no Rio em 1915: entre outros, à esq., sentado, Olavo Bilac; ao centro, de pé, Emilio de Menezes (bigode) e, sentado, Oswald de Andrade (barba)
Parnasianos no Rio em 1915: entre outros, à esq., sentado, Olavo Bilac; ao centro, de pé, Emilio de Menezes (bigode) e, sentado, Oswald de Andrade (barba) - Reprodução

Leitores se interessaram pelo poeta parnasiano Emilio de Menezes (1866-1918), sobre quem escrevi há dias (“O inventor do soneto-piada”) e que comparei com seu discípulo Oswald de Andrade na gordura, no humor e nos trocadilhos. Pediram-me exemplos da arte de Emilio. Aí vão alguns.

Como Oswald, Emilio era o mestre da resposta rápida. Depois de breve encontro na rua com Teixeira Mendes, apóstolo da Igreja Positivista, este se despediu: “Até logo, Emilio. Eu vou para o Apostolado. E você?”. Emilio: “Eu... vou para o lado oposto”. Outra: o obeso Emilio viu sentar-se ao seu lado no bonde uma senhora também gordíssima. O banco foi ao chão. E Emilio: “É a primeira vez que vejo um banco quebrar por excesso de fundos!”.    

Ruy Barbosa, 61 anos em 1910 e casado com dona Maria Augusta, gabava-se de estar em grande forma para disputar a Presidência. Emilio fulminou: “Ao ouvir-lhe a gabolice/ Maria Augusta se abrasa/ — Se tem tanto quanto disse/ Por que não o exibe em casa?”. E, inconformado com a eleição de João do Rio para a Academia, soltou esta, cheia de preconceito: “Na previsão dos próximos calores/ A Academia, que idolatra o frio/ Não podendo comprar ventiladores/ Abriu as portas para o João do Rio”.

Na coluna, falei dos sonetos-piada de Emilio. Um deles tinha como alvo o diplomata e historiador Oliveira Lima, biógrafo de D. João 6º e também obeso: 

“De carne mole e pele bimbalhona/ Ante a própria figura se extasia!/ Como oliveira, ele não dá azeitona/ Sendo lima, parece melancia.// Atravancando a porta que ambiciona/ Não deixa entrar, nem entra. É uma mania!/ Dão-lhe, por isso, a alcunha brincalhona/ De ‘paravento da diplomacia’.// Não existe exemplar na atualidade/ De corpo tal e de ambição tamanha/ Nem para intriga igual habilidade.// Eis, em resumo, essa figura estranha/ Em mil léguas quadradas de vaidade/ Por milímetros cúbicos de banha!”. 

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