Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro

Siga o dinheiro

Quem inventou esta grande frase, sem a qual a vida real já não pode passar?

William Goldman ao receber o Oscar pelo roteiro de 'Todos os Homens do Presidente', em 1977
William Goldman ao receber o Oscar pelo roteiro de 'Todos os Homens do Presidente', em 1977 - Associated Press

O ex-juiz e futuro ministro da Justiça Sergio Moro pretende adotar como método de desbaratamento do crime organizado o mesmo processo que usou no combate à corrupção: a investigação da vida financeira dos suspeitos, o que tem levado a processo empresários, executivos de estatais, tesoureiros de partido, políticos, governadores e até presidentes da República. É a aplicação do mote “Siga o dinheiro”, tornado famoso pelo caso Watergate, a investigação nos EUA da tentativa de encobrimento de uma invasão da sede do Partido Democrata em 1972 e que provocou a renúncia do presidente Nixon. 

Desde então, “Siga o dinheiro” virou uma palavra de ordem em qualquer processo criminal. Na época, nem todo mundo acompanhou em detalhes o caso Watergate ou leu o livro “Todos os Homens do Presidente”, dos repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein, que levantaram a história no jornal The Washington Post. Mas todos ficaram sabendo de um informante secreto, apelidado Deep Throat —Garganta Profunda—, que os abasteceu de informações. “Sigam o dinheiro”, disse o personagem de Deep Throat no filme, também chamado “Todos os Homens do Presidente”, de 1976, com Robert Redford e Dustin Hoffman.

O filme foi um sucesso e, por causa dele, a frase “Siga o dinheiro” foi atribuída retrospectivamente ao Deep Throat da vida real. O qual, quando veio a público há alguns anos, pouco antes de morrer, desmentiu que a tivesse dito. E ela também não está no livro. Foi dita somente no filme, inventada pelo roteirista William Goldman.  

É a ficção corrigindo a realidade. Deep Throat não disse a frase, mas devia ter dito. Perdeu a chance de se eternizar nos livros de citações. Em seu lugar, estará Goldman, que morreu há três semanas em Nova York, aos 87 anos. 

Ou Moro, se continuar seguindo o dinheiro, não importa por que descaminhos ele se insinue. 

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