Há dias, a colega Marcella Franco confessou-se frustrada por até hoje não ter conseguido biografar Chico Buarque. “Especialmente à beira de efemérides”, ela disse, “escritores batem à porta de seu empresário perguntando: ‘Será que o Chico topa uma biografia?’. Falo com propriedade, porque sou uma das muitas que já arriscaram o pedido. A resposta —para mim e para todo mundo— foi sempre a mesma: não. [...] Sigamos tentando”.
Marcella querida, se você quer tanto biografar Chico Buarque, o que a impede? Desde a histórica decisão da ministra Cármen Lúcia, do STF, em junho de 2015, ninguém mais precisa de autorização para escrever a biografia de ninguém. Claro que, se, ao ler o livro, o biografado sentir-se ofendido, ele poderá processá-la. Mas o seu livro nunca será proibido como acontecia no passado, inclusive comigo.
Entendo a sua vontade de passar semanas com Chico Buarque, ouvindo-o narrar sua fabulosa vida. Mas, supondo que ele topasse recebê-la, isso não a dispensaria de tentar ouvir cerca de outras 200 pessoas a respeito dele. Esse é um número que, em minha opinião, se exige de uma biografia de verdade —um mínimo de 200 fontes. Das quais, para mim, o biografado é apenas uma.
Você parece estar pensando em termos de uma biografia “autorizada”. Sabe o que isso representa? Em troca de conversar com você, ceder suas fotografias de bebê e revelar os nomes de suas namoradas de infância, ele poderá exigir que você lhe submeta o original antes da publicação, para que ele o aprove.
Assim é a biografia autorizada —em cuja verdade eu acredito tanto quanto no coelhinho da Páscoa.
Vá em frente, Marcella. Acerte-se com uma editora e, se Chico Buarque não quiser falar com você, não lhe faltarão pessoas com muito a dizer sobre ele, suficientes para uma boa biografia. E, garanto a você, muito mais verdadeira.
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