Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro

Filmes de fim do mundo

'O Dia em que a Terra Parou' é fichinha perto de 'O Diabo, a Carne e o Mundo'

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Ao ver imagens do Rio com as ruas desertas, lembrei-me de uma reportagem que pedi em 1976 ao fotógrafo Januário Garcia para a revista Domingo, do Jornal do Brasil, que eu editava —o Rio sob ângulos inusitados e sem ninguém à vista, nem carros. O texto coube a outro colaborador nosso, Carlos Drummond de Andrade. Não era tarefa fácil para Januário. Para pegar as ruas vazias, ele teve de fotografar muito cedo e usar filtros especiais. Mas ficou lindo —principalmente porque era um Rio de faz de conta.

As imagens de hoje são reais, parecidas com as das cidades despovoadas de antigos filmes americanos sobre as consequências da guerra nuclear. O mais citado nas mensagens pela internet tem sido "O Dia em que a Terra Parou" (1951), de Robert Wise. Mas não é o melhor exemplo. Tudo bem, ele mostra a Terra "parada", pela ação de um alienígena que corta a energia elétrica do planeta por meia hora, para nos dar uma amostra de seu poder. Mas 30 minutos sem luz são pinto diante dos vários apagões nacionais que já tivemos depois.

Muito mais assombroso era "O Diabo, a Carne e o Mundo" (1959), de Ranald MacDougall, em que Harry Belafonte escapa dos escombros de um prédio para descobrir que a guerra atômica varreu a humanidade do planeta. O filme foi rodado nas ruas de Nova York com a ajuda da prefeitura, que as fechou para as câmeras. Imagine Times Square ou a Quinta Avenida sem viv'alma, com o vento levando os jornais.

Outros filmes de fim do mundo foram "Mortos que Matam" (1964), de Sidney Salkow (no original, "The Last Man on Earth"), com Vincent Price, e "A Última Esperança da Terra" (1969), de Boris Sagal, com Charlton Heston, baseados no mesmo romance de Richard Matheson. Nos dois, a guerra química disseminou um vírus fatal que pegou todas as pessoas válidas e só deixou zumbis.

Eles nos deixam uma lição —continuarmos válidos, não nos transformarmos em zumbis.

Harry Belafonte em Nova York em cena do filme “O Diabo, a Carne e o Mundo”, de 1959
Harry Belafonte em Nova York em cena do filme “O Diabo, a Carne e o Mundo”, de 1959 - Divulgação

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