Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro

O artista mágico e rigoroso

Paulo Garcez foi o autor de muitas fotos que você admirou e nunca soube de quem eram

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Ele foi o autor das melhores fotos de Danuza Leão, Nelson Rodrigues, Tarso de Castro, Helio Oiticica, Madame Satã, Marilia Pêra, da Banda de Ipanema, dos "sabiás da crônica" —Rubem Braga, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Vinicius de Moraes, Otto Lara Resende, Carlinhos Oliveira, Sergio Pôrto e Chico Buarque, juntos, na cobertura de Rubem— e tantos outros. Fotos que saíram em toda parte, muitas vezes sem crédito, e por isso você nunca soube de quem eram. Pois eram de Paulo Garcez, que nos deixou na última terça (10), aos 92 anos.

Era um portraitista mágico e rigoroso. Ao apontar a Nikon para seus modelos, conseguia o impossível, como arrancar gargalhadas do mineral João Cabral de Melo Neto ou capturar uma Fernanda Montenegro serena, sem a sua santa inquietação pelo mundo. Nelson Cavaquinho, Elis Regina, Djanira, Glauber Rocha e Drummond foram outros cuja alma bateu asas rumo às lentes de Paulo.

Em 2002, Vivi Nabuco produziu um livro de suas fotos, "Arte do Encontro", com textos de Millôr Fernandes e Sérgio Augusto e, ciente da ousadia, legendas de minha lavra. Foi das tarefas mais difíceis a que me dispus: fazer justiça às 140 fotos, que, no fundo, retratavam o wit, a elegância e a inteligência do próprio Paulo. Por sorte, essas qualidades foram registradas por seu colega David Zingg, que o fotografou para um anúncio do cigarro Charm e o chamou de "o Príncipe de Gales de Ipanema". Outro wit, Yllen Kerr, definiu-o como "o único homem capaz de dirigir um Jaguar com as pernas cruzadas."

Paulo tinha uma identidade secreta: era "um dos maiores analistas sociais amadores do Brasil", segundo Paulo Francis, e "um Roberto Da Matta com humor", segundo Sérgio Augusto. Ele nos explicava o Brasil, e de maneira hilariante.

Pena que só fosse de falar, não de escrever. As palavras se perdem, e Paulo merecia um taquígrafo que o acompanhasse pela vida.

Elis Regina por Paulo Garcez em 1970, a capa do livro de suas fotos e ele próprio
Elis Regina por Paulo Garcez em 1970, a capa do livro de suas fotos e ele próprio - Heloisa Seixas

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