Danuza Leão foi musa a vida inteira

Inspiradora, viveu muitas vidas do Rio a Paris

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Mário Mendes

jornalista de cultura, arte e moda, com passagens por Vogue, Elle, Trip e Veja. Atualmente colabora com a publicação Forbes Life Fashion.

Houve um tempo, no século passado, quando o Brasil tinha musas. Na música, no cinema, na pintura, no Carnaval… Danuza Leão era uma delas.

Os muitos obituários publicados depois de sua morte, em maio, aos 88 anos, a colocaram apenas como ex-modelo, colunista e escritora. O que ela de fato era, como atestam as muitas fotos, as colunas assinadas, os dez livros publicados e os dois prêmios Jabuti. Porém, Danuza foi além. Como musa que se preza, era, sobretudo, uma inspiração.

De saída, nos anos 1950, inspirou como jovem bela e esguia, de nariz atrevido e verdes olhos de ressaca, em uma festa em Paris. Era noite de gala do barão de Coberville e Danuza estava vestida de Maria Bonita. Conheceu Jacques Fath, um dos três maiores costureiros do momento, pediu um emprego a ele e virou manequim da "couture".

Nascida Danuza Lofego Leão, em 1933, em Itaguaçu (ES), ela tinha dez anos quando a família se mudou para o Rio. Sua irmã mais nova, Nara Leão, fez carreira de sucesso como cantora na MPB. Conta-se que o apartamento da família Leão, em Copacabana, foi o berço da bossa nova.

No Rio de então havia uma figura épica, o jornalista Samuel Wainer (1910-1980). Polêmico, carismático, ousado, com amigos poderosos e inimigos idem. Danuza se apaixonou, casou com ele e tiveram três filhos: Samuel, Pinky e Bruno. O casamento acabou quando Danuza engatou um romance com o jornalista, compositor e boêmio Antonio Maria. Mas paixão acaba, e Danuza voltou para o ex-marido e a família acompanhou Samuel no exílio em Paris. Danuza se casou ainda mais uma vez, com o também jornalista Renato Machado.

A Danuza que emerge na década de 1970 é a que ficou no imaginário nacional. No prefácio de um de seus livros, ela apresenta um breve currículo: "fui secretária, dona de butique, de restaurante, manequim, relações públicas da TAP, jurada de televisão e mais ou menos atriz (invenções de Glauber); trabalhei oito anos na noite, no Regine’s e no Hippopotamus". Ela estava na TV, no cinema, nas colunas sociais. Era mulher emancipada e ícone fashion.

Em 1984, seu filho Samuel morreu aos 29 anos. Em 1989, perdeu a irmã Nara, vítima de um tumor no cérebro. Na sequência se foram seu pai e sua mãe. Danuza se retirou de cena.

Voltou em 1992, com "Na Sala Com Danuza", um manual de etiqueta para acabar com todos os outros. A seguir vieram os convites para ser colunista social no Jornal do Brasil e, mais tarde, como cronista na Folha e em O Globo.

Deixou a Folha em 2013, depois de uma coluna polêmica onde se queixava que até o porteiro de seu prédio viajava para Nova York. Tornou-se um dos primeiros casos de celebridade cancelada.

Em seus últimos anos Danuza continuava escrevendo, porém menos. E é na sua escrita que podemos encontrar pelo menos uma pista para a mística da musa: "Aprendi a ler sozinha, nunca brinquei de boneca e aos 16 anos meus amigos eram Rubem (Braga, o escritor), Di (Cavalcanti, o artista) e Vinícius (de Moraes, o poeta e diplomata)".

Danuza Leão, glória nacional.

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