Samuel Pessôa

Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Office (JBFO). É doutor em economia pela USP.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Samuel Pessôa

Pandemia não parece ter deixado grandes marcas no funcionamento da economia global

'Se conseguimos nos entender, poderemos surpreender em relação ao pessimismo do FMI sobre nós'

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Em abril, o FMI divulga seu cenário da economia mundial para os próximos anos. O cenário do ano será atualizado em outubro próximo. A tabela apresenta, para três intervalos de tempo e para diversos grupos de países, o que aconteceu, desde o início do século, e o que ocorrerá, até 2027.

Nesse período, tivemos duas grandes crises econômicas globais. A grande crise financeira global (GCFG), produzida pela quebra dos bancos americanos por causa da inadimplência das hipotecas nos EUA; e a crise econômica produzida pela pandemia.

Na primeira linha da tabela vemos como as crises afetaram o crescimento da economia mundial. No período conhecido como "a grande moderação", de 2000 até 2007, a economia mundial cresceu 4,5% ao ano. Após a GCFG, o mundo cresceu 3,3%, 1,2 ponto percentual abaixo do crescimento do período anterior.

Fachada do escritório do Fundo Monetário Mundial em Washington, DC - Oliver Doulivery/AFP

O bom desempenho na grande moderação aparentemente teve algum grau de artificialidade. A economia mundial nunca mais conseguiu retomar aquele ritmo.

Diferentemente, a crise econômica produzida pela pandemia não parece ter deixado grandes marcas no funcionamento da economia. Se entre 2008 e 2019 a economia global cresceu 3,3% ao ano, segundo a projeção do FMI, entre 2020 e 2027 (tomando como base 2019, o ano anterior ao intervalo de tempo considerado), o crescimento será de 2,9%, só 0,4 ponto percentual (pp) menor.

Metade da desaceleração de 0,4 pp deve-se à redução do crescimento da China de 3 pp (8% de 2008 até 2019 ante 4,9% para o período 2020 até 2027). Como a economia chinesa na média representou uns 15% da economia mundial, uma queda de 3 pp retira 0,2 pp do crescimento do mundo. A desaceleração da China é natural em uma economia cujo crescimento se deve menos ao crescimento da indústria de transformação e mais ao dos serviços.

O 0,2 pp adicional de queda, segundo o FMI, deve-se à piora do desempenho das economias emergentes, principalmente as da Europa e da África subsaariana. Para a América Latina, o FMI não enxerga grande desaceleração para o período 2020 até 2027 em comparação ao período anterior. A grande perda de desempenho da nossa região foi após a GCFG.

Quando olhamos as economias avançadas, o FMI projeta para o período entre 2020 e 2027 uma leve aceleração em relação a 2008-19, de 1,4% ao ano para 1,6%.

Como temos defendido na coluna, a crise da epidemia é fruto de um choque externo ao funcionamento da economia e, portanto, não deixará marca permanente sobre a atividade econômica.

Para a economia brasileira, a piora é marcante. Crescemos, entre 2000 e 2007, 3,6% ao ano. No período seguinte, de 2008 até 2019, crescemos 1,6% e, segundo o FMI, rodaremos a 1,4% de 2020 até 2027.

Nunca considerei que nosso bom desempenho nos anos 2000 deveu-se ao choque positivo do preço das matérias-primas. Elas ajudaram bastante na receita pública, como temos visto, aliás, no período mais recente.

Mas nossa aceleração do crescimento nos anos 2000 deveu-se, na minha interpretação, a muita arrumação de casa que fizemos entre 1998 e 2005. O cenário do FMI não é uma condenação. Se conseguirmos nos entender e construirmos um contrato social viável, como fizemos entre 1999 e 2007, poderemos surpreender em relação ao pessimismo do FMI sobre nós.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.