Samuel Pessôa

Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Office (JBFO). É doutor em economia pela USP.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Samuel Pessôa
Descrição de chapéu PIB

Resiliência da economia mundial

Desinflação tem sido menos dolorosa do que normalmente ocorre

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O barômetro da economia mundial divulgado mensalmente pelo FGV Ibre em parceria com o KOF Swiss Economic Institute indica uma leve aceleração desde junho.

Em que pese toda a política monetária contracionista em quase toda parte —a exceção é a China, que, apesar da recuperação em relação a 2022, em razão do fim da política de Covid zero, tem apresentado dificuldade de manter crescimento mais robusto para os padrões chineses—, a economia mundial dá mostras de ensaiar uma retomada da atividade.

Operador observa painel que mostra andamento do Ibovespa
Economias do Brasil e dos Estados Unidos apresentam a mesma resiliência - Amanda Perobelli/Reuters

O acompanhamento em tempo real da atividade da economia americana para o terceiro trimestre conduzido pelo Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) em Atlanta aponta crescimento de 1,4% ante o segundo trimestre, uma taxa anualizada de 5,8%.

Ainda estamos na metade do trimestre e há muita informação até a última semana de outubro, quando o BEA, o IBGE americano, divulgará os números oficiais. De qualquer forma, os sinais são de uma economia americana muito mais forte do que se imaginava.

A trajetória da economia brasileira também tem apresentado a mesma resiliência da economia americana. Os dados de indústria, varejo e serviços do IBGE para o segundo trimestre consolidaram a leitura de que o crescimento será na casa de 2% ou até um pouco mais.

Não obstante o crescimento mais forte, não tem havido surpresas inflacionárias. O IPCA caminha para fechar o ano a 5%, como se imaginava em dezembro. Ou seja, até o momento, temos no Brasil e nos EUA uma desinflação sem custo de aumento de desemprego. Considero ainda uma leve desaceleração da ambas as economias na virada de 2023 para 2024. No entanto, inequivocamente o custo da desinflação tem sido menor.

Qual é a explicação para esse melhor desempenho das economias? Minha interpretação é que o atual surto inflacionário no hemisfério Norte é o primeiro que acontece após a construção do regime de metas de inflação, que ocorreu na primeira metade da década de 1990.

Desde o dia 13 de agosto de 1971, quando Nixon, presidente dos Estados Unidos, deu um calote global e rejeitou a conversibilidade do dólar ao ouro, passamos a operar em um mundo em que a quantidade de moeda pode ser qualquer coisa. Moeda é essencialmente papel pintado, e não tínhamos uma governança de como operar em um regime de moeda fiduciária. De fato, nos anos 1970 até a metade dos anos 1980, vivemos um longo surto inflacionário.

Por vários anos amarrados à ideia monetarista de controle da quantidade de moeda, não conseguimos operar bem a política monetária. Quando trocamos o controle quantitativo por uma regra de taxa de juros, avançamos.

A mudança parece simples e direta: em vez de controlar a quantidade de moeda, controla-se o preço. Mas foi muito difícil mudar o ponto de vista para o problema monetário: séculos de uso do padrão-ouro acabaram por entortar a boca.

A operação do regime de metas de inflação e a elevada reputação dos bancos centrais têm feito que, apesar da elevação da inflação, as expectativas para três ou quatro anos à frente se mantenham na meta. O resultado tem sido uma desinflação menos dolorosa do que normalmente ocorre.

É uma ótima notícia, e não deixa de ser uma grande conquista da economia enquanto um campo das ciências sociais.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.