Sandro Macedo

Formado em jornalismo, começou a escrever na Folha em 2001. Passou por diversas editorias no jornal e atualmente assina o blog Copo Cheio, sobre o cenário cervejeiro, e uma coluna em Esporte

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Maior inimigo dos técnicos são as 'forças externas'

Como um poltergeist, elas não têm cara, não têm cheiro, não têm nome, mas elas estão lá, pairando no ar

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"Poltergeist", "A Bruxa de Blair", "Atividade Paranormal", "Os Outros", "Beetlejuice". O cinema explora há décadas com sucesso as forças externas, mas elas agora dominam o futebol brasileiro. E aterrorizam normalmente as mesmas vítimas, os atores mais frágeis do esporte bretão: os técnicos.

O que eles precisam para se livrarem das forças externas? Jogar bem, e eventualmente não ganhar? Jogar mais ou menos, mas ter bom aproveitamento? Ninguém sabe.

Mesmo antes de começar o Campeonato Brasileiro, já temos dois filmes parecidos. No Corinthians, Sylvinho foi demitido depois de apenas três partidas no Paulistinha. Era o mesmo Sylvinho do ano passado, o sujeito que comandou o time no honroso quinto lugar —ok, poderia ficar na frente do Fortaleza, mas contra Atlético Mineiro, Flamengo e Palmeiras, nesta ordem, não tinha muito o que fazer.

Jogava bem? Não exatamente, mas o time foi ganhando peças durante a competição, e ainda está em formação. Mas então porque não o demitiram no ano passado e esperaram só agora para mandar pequeno Sylvio embora? Resposta: as forças externas.

Sylvinho foi demitido do Corinthians após três partidas no Campeonato Paulista
Sylvinho foi demitido do Corinthians após três partidas no Campeonato Paulista - Rodrigo Coca - 9.set.2021/Agência Corinthians

A diretoria gosta de Sylvinho e não queria mandar ele embora. Os jogadores? Tudo chapa. O presidente? amigão. Mas veio ela, a pressão externa. E Sylvinho se foi.

Já pensou se as forças externas fossem tão poderosas em 2011 e 2012 no Corinthians? O que seria de Tite após a derrota para o Tolima na pré-Libertadores de 2011? Naquela época, quem reclamou foi a torcida mesmo, que pedia a cabeça do professor Tite. E o então presidente Andrés Sanchez deu de ombros, manteve Tite e foi campeão do mundo um ano depois.

Nesta semana, em outro estado, episódio diferente, mesma série. No Rio Grande do Sul, Vagner Mancini era o técnico do Grêmio na reta final do Brasileiro, e permaneceu mesmo depois da queda para a Série B —aparentemente, constatou-se que ele era o menos culpado. Neste ano, começou prestigiado e estava invicto no Gauchinho. Isso mesmo, invicto.

No entanto, aquele vilão que você já conhece pairava pelo lado azul de Porto Alegre. E aí não teve jeito. O diretor de futebol veio para a coletiva e anunciou a demissão de Mancini por culpa dele, o "ambiente externo".

Como um poltergeist, as forças externas não têm cara, não têm cheiro, não têm nome, mas elas estão lá, pairando no ar.

Estudiosos dizem que as forças externas são uma mistura do som de parte da arquibancada em dia de chuva com os malas que habitam as redes sociais e uma pitada de queixa da imprensa —leia-se como "imprensa" qualquer sujeito que tenha um blog que fala apenas sobre um time no qual ele é o CEO, o jornalista, o analista e até a fonte; eles têm o mesmo poder de fogo quando se trata de "forças externas".

E sobre as redes antissociais, cá entre nós, se reclama de tudo ali, até de Colomba Pascal na Páscoa. Mas ainda tem quem dê ouvido a elas.

Bom mesmo é o Botafogo. O time liderava o Carioquinha e perdeu um mísero jogo, um clássico sem graça para o Fluminense. E aí, Enderson Moreira, o melhor técnico do planeta B no ano passado, foi demitido.

Forças externas? Nada disso. Quem demitiu foi o dono, o inglês John Textor, que virou o cara do time quando ele se transformou em SAF (Sociedade Anônima do Futebol).

E Textor citou as "forças externas" (ou "external forces") na hora da demissão? Não. Falou que queria um estilo de jogo diferente para o time, uma nova identidade para a equipe que não viria com Enderson. E se não der certo? Troca de novo e assume a bronca. Nada como ser o dono.

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