Sandro Macedo

Formado em jornalismo, começou a escrever na Folha em 2001. Passou por diversas editorias no jornal e atualmente assina o blog Copo Cheio, sobre o cenário cervejeiro, e uma coluna em Esporte

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Sandro Macedo

Como torcer pelo Brasil de Neymar, apesar de Neymar?

No campo e mais até na vida, atacante ainda parece um ser individualista

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Agora é oficial. O clima de Copa está no ar. Tite já fez a convocação de 26 jogadores, com 25 deles em atividade + Daniel Alves, um cara de grupo.

Como apreciador do Arsenal, gosto de Gabriel Martinelli, mas tenho dúvidas se ele seria convocado se estivesse jogando no mesmo nível apresentado em outra liga, como a brasileira… ou a mexicana, talvez.

Preferia que o professor Tite tivesse selecionado Roberto Firmino, que pode jogar até como um atacante-armador no lugar de Neymar —é sempre bom pensar que não teremos Neymar em pelo menos um jogo… só por precaução (cartões e pisões são terríveis).

Como apreciador do Arsenal, gosto de Gabriel Martinelli - Ian Kington - 30.out.22/AFP

Ainda observando as preferências deste guichê, Gabriel Magalhães, do Arsenal (coincidência?), parecia um nome mais interessante que o de Bremer, que jogou meio tempo com Tite e é titular da capenga Juventus, sexta colocada do Campeonato Italiano —o Arsenal é líder do Inglês, melhor escrever isso enquanto é verdade.

Em um bate-papo promovido pela Folha pós-convocação, Casagrande, sempre enfático ("abraço, Casão"), disse em outras palavras que a convocação de Daniel Alves é um tapa na cara da classe de laterais direitos no Brasil. De fato, pior do que perder um lugar na seleção para um jogador que está mais ou menos num time da Europa ("abraço, Alex Telles") é perder a vaga para um que nem atua no México (com todo o respeito).

Se bem que Tostão já defendeu a convocação de Dani. E eu tenho dificuldade de discordar do mestre Tostão. Mas ainda acho que o professor Tite poderia ter oferecido uma explicação melhor para Dani. "É o meu representante no vestiário; é um agregador; conta as melhores piadas; o único que gosta do final de ‘Game of Thrones’". Ou… a melhor delas… "Vai me ajudar a tomar conta de Neymar."

Talvez este último motivo valesse uma convocação. Isso porque a grande questão budista desta Copa será: como torcer pelo Brasil de Neymar, apesar de Neymar?

Pelé e toda a seleção também tiveram problemas com a torcida na Copa de 1970, quando o futebol foi usado pela ditadura. Pelé, o grande nome daquele esquadrão, não falava do assunto. E muitos criticaram sua omissão.

Neymar foi por livre e espontânea vontade se envolver com política a um mês da Copa. E, claro, cada um é livre para ter sua preferência. Mas os motivos de Neymar não têm nada a ver com o bem da nação. Ofereceu apoio ao presidente Bolsonaro dizendo: "Ele me ajudou no pior momento da minha vida".

O jogador se refere à acusação de estupro que sofreu em 2019. Bolsonaro, na época, disse que Neymar (à época com 27 anos) era só um menino e que acreditava nele —se Zé Love fosse candidato à Presidência, provavelmente também receberia apoio do craque. O caso foi arquivado pelo Ministério Público por falta de provas.

No campo e na vida, Neymar ainda parece um ser individualista. Mais até na vida do que no campo. No caso do apoio presidencial, não importa, por exemplo, a ação do governo durante a pandemia, quando demorou para comprar vacinas —para citar apenas um caso que deve ter repercutido lá em Paris, onde vive o camisa 10 de Tite.

Neymar resolveu se envolver em política às vésperas da Copa - Twitter @fabiofaria/AFP

Nas redes sociais, Neymar sempre está no ataque. Confronta celebridades, subcelebridades, jogadores, ex-jogadores, comentaristas, jornalistas… O atacante faz a linha "estão comigo ou estão contra mim". No Twitter ou Instagram, qualquer tipo de comentário, do curioso ao cruel, pode ser feito, desde que termine com três emojis "chorando de rir". Assim a gente não precisa levar o menino a sério.

Neymar prometeu homenagear o presidente brasileiro, no cargo até o fim do ano, com seu primeiro gol no Qatar. Não prometeu gol para vítimas da Covid, ou para quem sofre com a restrição de direitos humanos no Qatar. Tite tem duas semanas para fazer o camisa 10 repensar seu foco.

E como torcer pelo Brasil apesar de Neymar? Temos Vinicius Junior, o cara que aparecerá em todo intervalo comercial do Mundial (os marqueteiros são sábios); e Richarlison, esse, sim, um representante com a cara do país em gramados mundo afora.

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