No fim de semana, a rodada do Campeonato Brasileiro fez este escriba lembrar-se de uma propaganda antiga, provavelmente de algum banco. O slogan no final ensinava: "Quem poupa tem". Era um tempo em que poupar parecia bom.
Os cinco times envolvidos com as semifinais continentais pouparam loucamente na rodada. E ninguém se deu bem. Palmeiras, Fluminense e Internacional, que jogam na Libertadores, perderam. O Corinthians poupou em pleno clássico contra o São Paulo e também perdeu. O time do Mano (peço um minuto de silêncio coletivo pelo fim da era Luxemburgo, o Vanderlei) enfrenta agora na Sul-Americana o Fortaleza, outro que poupou, mas empatou.
Todos pouparam por um objetivo comum, a vaga na final continental. A matemática e o confronto direto dizem que dois dos poupadores vão se dar bem, outros dois, consequentemente, vão se dar mal (mesmo poupando).
E tem o Palmeiras, que faz o jogo-exorcismo contra o fantasma do Boca Juniors, na quinta (5), pela chance de disputar a terceira final em quatro anos. Aliás, o Boca também poupou no domingo, diante do River Plate, seu maior rival, na Bombonera, e perdeu. Se cair contra o Palmeiras, algo me diz que o professor boquense será chamado ao RH.
Porém a poupança do Palmeiras foi a mais animadora, apesar da derrota —isso se o conselho tutelar não for atrás de Abel por exploração de mão de obra de menor. Os garotos do Palmeiras (nove titulares contra o Bragantino foram campeões da Copa São Paulo no ano passado) mostraram que podem ser ótimas opções tanto na Libertadores quanto no restante do Brasileiro.
Mas o ponto é: será que era necessário poupar tanto? Não dá para descansar só uns três ou quatro coleguinhas titulares? Ainda mais no caso de Palmeiras e Fluminense, que pareciam reais ameaças ao título do Botafogo —agora, parecem um pouco menos.
Estava aqui olhando os procedimentos de Pep Guardiola, o deus catalão do futebol. Na temporada passada, o Manchester City precisou cortar um dobrado para superar o Arsenal na disputa pelo título da Premier League. E entre uma rodada e outra ainda tinha a fase decisiva da Champions League, até então um calo no sapato árabe do City.
Três dias antes de enfrentar o Real Madrid, na primeira semifinal, o City jogou contra o Leeds United. Seis titulares estiveram nos dois jogos. E outros três entraram no segundo tempo no Inglês. Ou seja, o professor Pepito usou nove atletas. Duas semanas depois, o City utilizou sete jogadores (cinco titulares e dois reservas) contra o Everton que depois derrubaram o Real no jogo de volta da semifinal.
Pepito fez o que aqui é chamado por comentaristas sábios de misto quente, com apenas jogadores pontuais sendo poupados.
Jesus, o Jorge, também ficou marcado no Flamengo por trocar poucos titulares entre as partidas decisivas da Libertadores de 2019 e os jogos do Brasileiro. Aliás, o histórico Flamengo de 2019 foi o único que conseguiu recentemente se dar bem nos pontos corridos do Brasileiro e no principal torneio continental.
Ao fim do ano, se o Botafogo confirmar o título, cada vez mais próximo, poderá lembrar com carinho a 25ª rodada, aquela em que seus perseguidores principais abandonaram o Brasileiro em nome da poupança continental.
Vôlei vive um drama
A seleção masculina de vôlei nunca ficou fora de uma edição de Jogos Olímpicos. Mas, como perdeu a vaga continental para a Argentina (sempre eles), depois da derrota histórica no Sul-Americano, está disputando um torneio pré-olímpico. E, a julgar o drama que foi a vitória no Maracanãzinho contra a República Tcheca (no tie-break, de virada), vai ser dureza. O grupo ainda tem Itália, Cuba e Alemanha, e só duas vagas. Oremos.
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