Sandro Macedo

Formado em jornalismo, começou a escrever na Folha em 2001. Passou por diversas editorias no jornal e atualmente assina o blog Copo Cheio, sobre o cenário cervejeiro, e uma coluna em Esporte

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Descrição de chapéu Olimpíadas 2024

Roland Garros fervendo, sem Coco

Com o calor infernal, vale o trocadilho de que o campeão teria feito pacto com o diabo

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Trinta e três graus centígrados era o que registrava o celular deste escriba, em momento não humilde, dentro do forno francês chamado Roland Garros.

Mostrando traços de sadismo, a organização ainda inicia a rodada ao meio-dia. Na terra batida sem sombra da Philippe Chatrier, é possível que a temperatura ambiente tenha chegado a 140ºC —bem acima do ponto de ebulição da água.

Já imagino o diretor canadense Denis Villeneuve fazendo uma sequência inteira, toda em tom terra, na próxima parte de "Duna", com guerreiros da tribo que vive no deserto jogando uma partida de tênis; será filmada em Roland Garros.

Nadal e Alcaraz durante partida pelo torneio de duplas
Nadal e Alcaraz durante partida pelo torneio de duplas - Claudia Greco/Reuters

De maneira geral, a Paris dos Jogos Olímpicos tem duas condições climáticas: 1) calor etíope —que é mais forte que o senegalês— sem sombra, das 10h às 22h; 2) chuva que estraga a cerimônia de abertura e as condições do rio Sena. Não há nada entre um e outro; talvez um ventinho besta, só para atrapalhar o tiro com arco.

Voltando a Roland Garros, a Philippe Chatrier começou o dia (meio-dia) com público acima de 80%. Muito bom, para uma segunda rodada, mas abaixo da lotação máxima do dia anterior, quando Novak Djokovic e Rafael Nadal torraram na mesma quadra.

A programação começou com a jovem norte-americana Coco Gauff perdendo o jogo e a calma na partida contra a perigosa croata Donna Vekic.

Com um jogo taticamente perfeito, Vekic atraía constantemente a rival para a rede com deixadinhas, depois de trocas no fundo. Normalmente se dava bem. Em um ponto polêmico, Coco não concordou com a marcação da juíza, discutiu e foi às lágrimas.

Era um ponto importante, que lhe custou a quebra de saque no segundo set e, pouco tempo depois, a partida.

No entanto, mais da metade daquele público inicial não viu o drama em quadra vivido por Coco. Já tinham saído. Houve uma debandada geral na arquibancada lateral assim que terminou o primeiro set, já depois das 13h —provavelmente atrás de um cantinho mais fresco.

Pouco antes, uma pessoa chegou a passar mal no meio da plateia, interrompendo o jogo por alguns segundos. Em seguida, o telão da Philippe Chatrier exibia a mensagem, em francês e inglês: "Fique hidratado, pontos de água gratuitos estão disponíveis em todo o complexo".

Pouco depois, com cerca de 35ºC, entrou em quadra o atual campeão olímpico, o alemão Alexander Zverev, todo de preto. Me deu angústia só de olhar o uniforme.

Nos intervalos a cada virada de quadra, o alemão tentava se refrescar com gelos enrolados em uma toalha, que ele deixava no pescoço.

Zverev suou para ganhar de Tomas Machac em cerca de 1h40. E continuou suando. Quando o jogo terminou, Sasha, como é chamado, se debruçou na cadeira, como se estivesse esgotado em um jogo de dois sets —no frescor de maio, durante o Grand Slam anual, Roland Garros cansa menos.

Já Rafael Nadal continua firme nas duplas. Afinal, o jovenzinho Carlos Alcaraz corre por dois, ou três.

Em algumas fan zones de Paris, como no Hôtel de Ville, há jatos d’água disparados na torcida para dar uma aliviada no calor acachapante. Na arena de vôlei de praia, a prática também é comum. Roland Garros poderia copiar a estratégia.

Ainda não se sabe quem será o campeão olímpico de tênis, mas com o calor infernal, está liberado o trocadilho de que o medalhista de ouro teria feito pacto com o diabo.

E sabe qual a previsão do tempo para os dois próximos dias? Chuva. Os deuses do Olimpo existem, são olímpicos e adoram rir da nossa cara.

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