Solange Srour

Diretora de macroeconomia para o Brasil no UBS Global Wealth Management.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Solange Srour

Sair sem estratégia é perder a guerra

Se as restrições caírem sem protocolos, a perda econômica acumulada será maior

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Nos últimos dias, vários estados começaram a afrouxar as medidas de distanciamento social. Alguns abriram escolas e parte do comércio de rua. Já outros permitiram o funcionamento de hotéis, restaurantes e salões de beleza. A pressão da sociedade é gigantesca.

As estimativas para o PIB pioram a cada semana, mesmo com todo o arsenal fiscal empregado. Ao que tudo indica, diante da inação do Executivo nacional, o processo de saída será desorganizado e improvisado, com consequências tanto para a evolução da doença quanto para a retomada da economia.

O Brasil teve o benefício de ter sido um dos últimos países atingidos pela doença, mas continuou tratando a pandemia como se fosse uma gripezinha. A ausência de coordenação deu lugar a uma série de decretos dos governos estaduais e municipais e a uma diversidade enorme de determinações que, muitas vezes, não foram harmônicas.

Perdemos um tempo precioso. Não aumentamos substancialmente a estrutura de saúde nas regiões mais carentes do país. Enfrentamos falta de testes, equipamentos e medicamentos, não só para pacientes mas principalmente para profissionais da saúde.

As próximas semanas serão decisivas para a definição do tamanho da recessão que enfrentaremos. Decretar o fim das medidas de isolamento, sob o argumento de minimizar os efeitos na atividade econômica, é incorrer em um erro grave. A única forma de garantir um retorno sustentável do crescimento e do bem-estar da sociedade é sair do distanciamento de forma segura.

Os empregos perdidos são consequência não das medidas adotadas, senão da própria pandemia. Pensar talvez que algumas pessoas estivessem viajando, comprando e comendo fora como de costume, se não houvesse proibições, é ignorar que as pessoas têm medo de morrer.

O distanciamento social só pode ser relaxado com uma estratégia de saída coordenada entre os estados e governo federal. O atual ambiente conflituoso pode ser deletério.

O Brasil deveria seguir os casos bem-sucedidos da Alemanha, de Portugal e da Coreia do Sul, onde uma sistemática de regras é adotada por toda a Federação. Dessa forma, estão obtendo bons resultados em identificar rapidamente as pessoas infectadas, em encorajar os assintomáticos a realizar testes e em impedir que regiões já controladas recebam imigrantes de outras que ainda são foco da doença.

É imprescindível a formação de um comitê de gestão que estabeleça diretrizes, com base em um amplo conjunto de dados e que tenha poder de tomar decisões à medida que os acontecimentos exijam. Será um processo de “learning by doing”.

O caminho para a abertura total da economia será longo e desconhecido. Ainda não há segurança sobre a durabilidade ou mesmo a efetividade da imunização adquirida por quem contraiu o vírus. Será necessário ligar e desligar várias vezes as diversas formas de distanciamento social até que uma vacina finalmente surja e imunize toda a população.

Se as restrições forem levantadas prematuramente e sem seguir protocolos, o resultado será o surto subsequente da pandemia. Qual será a resposta então? Se for um retorno à restrição inicial, partindo de um ponto muito menos favorável e de uma propagação muito maior da doença, a perda econômica acumulada será maior.

Há ainda a possibilidade de sermos obrigados a adotar o confinamento na sua forma mais extrema com o sistema de saúde já saturado. Os custos já incorridos terão sido totalmente em vão.

São três as condições básicas para podemos voltar ao chamado “novo normal”: uma capacidade hospitalar adequada, uma rede eficiente de rastreamento de contatos de pessoas infectadas e uma ampla disponibilidade de testes. Abrir a economia sem que essas condições sejam alcançadas será contraproducente.

Se o desafio da pandemia pode ser comparado ao desafio de uma guerra, não há vitória conquistada por desistência dos vencedores. O Brasil poderia se espelhar em Israel. Depois de 16 longos meses, três campanhas eleitorais, milhões de novos shekels gastos, Gantz e Netanyahu assinaram finalmente um acordo para a formação de um governo de unidade nacional com o objetivo de unir esforços no enfrentamento da crise.

Israel tem a chance de sair da pandemia melhor do que entrou. Os políticos brasileiros precisam entender que é hora de paz e de muito trabalho para salvar a economia.

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.