Suzana Herculano-Houzel

Bióloga e neurocientista da Universidade Vanderbilt (EUA).

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Suzana Herculano-Houzel

Das estrelas aos neurônios

Cada vez mais me convenço que o que realmente nos separa dos outros animais é a extensão da nossa capacidade de investigar sistematicamente o mundo e passar nossos achados adiante para as gerações seguintes. 

O resultado é a quantidade impressionante de tecnologias que se acumulam e evoluem, resolvendo questões anteriores e trazendo novas, antes impensáveis.

Intrincada rede de neurônios e astrócitos humanos (azul e amarelo, respectivamente). Em vermelho, é possível ver o núcleo celular
Intrincada rede de neurônios e astrócitos humanos (azul e amarelo, respectivamente). Em vermelho, é possível ver o núcleo celular - divulgação

Pense, por exemplo, em como sabemos que somos feitos de células, pequenas unidades invisíveis ao olho nu que formam um todo que em nada se parece com seus pedaços. Sabemos que somos feitos de células porque alguém resolveu usar a óptica de um telescópio para observar o muito próximo, ao invés do muito distante.

Ainda assim, até muito recentemente "observar ao microscópio" queria dizer olhar o que já foi vivo, mas não é mais —porque foi necessariamente cortado em pedacinhos para caber sob a lente, tingido para se tornar visível, fotografado em partes depois montadas como um quebra-cabeças.

Mas não mais. Graças a invenções que valeram dois prêmios Nobel —uma adaptação de proteínas naturalmente fluorescentes de águas-vivas que hoje podem ser incluídas geneticamente como parte das células, como lanternas vivas, e uma nova forma de microscopia emprestada da astronomia—, agora é possível estudar células cuidando das suas vidas enquanto se dividem, comem outras células, e até mesmo durante o desenvolvimento embrionário (peixes se desenvolvendo na jacuzzi do microscópio).

O novo microscópio é uma geringonça irreconhecível que escaneia células vivas, mantidas numa minijacuzzi, com lâminas ultrafinas de laser, e emprega a óptica adaptativa de telescópios para usar uma "estrela guia" dentro do tecido e corrigir a distorção da imagem, criando uma distorção idêntica no sentido oposto, que cancela a original. Olhar para cima ou para baixo, quem diria, é quase a mesma coisa. 
 

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